S. F. Oliveira (2015) Cotidiano. http://cotidiano2013.weebly.com/
Prefácio
Como foi 2013? Parece que não foi um bom ano.
Para mim, pelo menos, uma coisa ficou clara: o número menor de textos que escrevi para os blogs.
A escolha dos temas esteve associada ao cotidiano (como sempre).
A qualidade do que escrevi parece não ter sido alterada, levando em consideração que tratou-se da redação de textos opinativos.
PODER E CRISE
As pessoas percebem nos outros (nunca nelas mesmas) o óbvio: todos envelhecem... e rápido. Poucos admitem. Raros assumem realmente.
Para garantir o “visual da temporada” vale qualquer coisa para homens e mulheres: botox, anabolizantes, cirurgias plásticas... Existem inúmeros truques para disfarçar a aparência tanto no mundo real como na “realidade virtual” (photoshop, etc). Um exemplo claro desta problemática seria o Mick Jagger,o vocalista dos Rolling Stones.
O envelhecimento, por mais que falem em igualdade, ocorre de maneira diferente para o homem e a mulher. Desde a adolescência, o poder feminino vem da aparência. Neste período, a garota tende a acreditar que aquela sedução acontecerá para sempre. Não vai.
Muitas querem só “curtir” desde cedo e se recusam a “namorar sério”. Outras acreditam que seria possível “curtir” e “namorar sério” ao mesmo tempo. De fato, quando “engatam” um namoro, esquecem as amigas, “se fecham” nos relacionamentos e o que antes era rir, dançar, beber... torna-se rapidamente em programas de rodízios em churrascarias e pizzarias em pleno Sábado. No Domingo vem o pior: almoçar na casa da sogra, dormir durante aquela tarde quente e ir ao cinema quando a noite chega e... pronto, o final de semana acabou.
Piora, claro. Algumas namoram durante longos anos no que representaria o auge de sua juventude, beleza e sedução – entre os 15 e os 25 anos. Depois de tanto tempo, o tédio piora, o casamento não chega e o namoro acaba. Assim, quando procuram as amigas e “o tempo perdido”, é óbvio, percebem que muita coisa mudou. A tal dignidade a impede de reatar o namoro e quanto mais o tempo passa o “ex” vira somente um fantasma que torna-se motivo das lamentações e choros nas madrugadas.
Essas garotas querem algo que não existe mais. Sentem saudades do tempo em que quando passavam, em pleno verão, numa praia ou mesmo piscina, transformavam-se automaticamente no centro das atenções. Percebem que foram substituídas. Os homens (de todas as idades) não conseguem desviar o olhar das... “outras”.
As crises começam e não param mais. Insônia. Neurose com a balança (a geladeira é a grande “amiga da madrugada”). Rejeição. Frustração.
E com os homens? Acontece algo parecido. Entretanto, esse processo começa só algumas décadas depois.
As mulheres, sem dúvida, amadurecem antes. Os homens, aparentemente, para o imaginário social, envelhecem posteriormente.
É justo? Não sei. As certezas tanto para um como para o outro sexo seriam as crises e o ponto final, o “descanso eterno”, a velha senhora – que muitos dizem evitar mas, no fundo, a desejam - a morte.
MERCADO DE TRABALHO: OBVIEDADES E "PÉROLAS"
Os supostos “mandamentos” – que circulam pela internet - de Bill Gates (para os estudantes) dariam arrepios ao Domenico de Masi e a sua perspectiva de um futuro mais feliz e com menos trabalho para as pessoas.
Apesar de ser "a cara do Bill Gates", tais palavras, de fato, são atribuídas "ao autor Charles J Sykes."*
Entre as obviedades e as “pérolas”, encontram-se:
“A vida não é fácil.
O mundo não está preocupado com a sua autoestima.
(...) Se você acha seu professor rude, espere até ter um chefe. Ele não terá pena de você.
(...) Se você fracassar, não é culpa de seus pais.
(...) Sua escola pode ter eliminado a distinção entre vencedores e perdedores, mas a vida não é assim.
Em algumas escolas você não repete mais de ano e tem quantas chances precisar até acertar.
Isto não se parece com absolutamente NADA na vida real.
(...) é pouco provável que outros empregados o ajudem a cumprir suas tarefas no fim de cada período.
(...) A vida não acontece como na televisão. Na vida real, as pessoas têm que deixar o barzinho e ir trabalhar.”
Esses “mandamentos” poderiam fazer parte do discurso de qualquer gerente, numa reunião particular com os seus funcionários (em público, ao contrário, o tal gerente falaria em “inteligência emocional”).
Os tais “mandamentos” não representam algo novo. O que surpreende é ler “normas” assim no século XXI.
Claro que essas ideias têm a ver com a hegemonia da ideologia neoliberal. Entretanto, elas parecem ser de outro contexto, quando ainda não havia as teorias de Freud, Paul Lafargue, Viviane Forrester, Domenico de Masi e Corinner Maier.
(*) http://www.creativeteachingsite.com/gates.htm
MULHERES PROBLEMÁTICAS
Um “problema” seria um “erro”, algo que precisaria de um conserto. “Problemático” seria algo complicado, que pressupõe debates, e não seria necessariamente algo totalmente equivocado. [Fiz essa distinção agora em função do que pretendo escrever.]
Partindo desta distinção bastante simples, pode ser dito que os homens, no geral, representam um “problema” e algumas mulheres seriam “problemáticas.
Não é necessariamente a idade que define se uma mulher seria “problemática” ou não. Entretanto, trata-se de um critério que não pode ser (de todo) descartado.
Essas mulheres precisam de autoafirmação. Necessitam provar que são adultas. As solteiras sempre procuram ter respostas prontas (e agressivas) para explicar as suas frustrações:
. não conseguiram sair da casa dos pais;
. não tiveram filhos;
. não conseguem arrumar um namorado;
. não estão satisfeitas com a profissão, entre outras características.
Elas não são difíceis de serem identificadas:
. costumam ter mais de 25 anos;
. fazem uma segunda graduação;
. são autoritárias;
. o outro, na visão delas, sempre seria o culpado;
. acham que o universo conspira contra elas;
. fingem que não têm inveja das amigas casadas, com filhos e que obtiveram sucesso na profissão;
. tentam (desesperadamente) parecer felizes, entre outras características.
Os homens são piores, diriam algumas (ou todas). É verdade. São “o” problema e por mais perfeitos que pareçam (elas querem acreditar nisto), as mulheres ficam com a sensação de que, numa hora qualquer, “pisarão na bola.” Estão certas. Pisarão mesmo. Talvez seja a “natureza masculina”... Entretanto, esse discurso serve mais como justifica para os erros e para conseguir o perdão das mulheres.
VIDA: LÓGICA E SENTIDO
O que você procura? Dizem que a vida seria uma estrutura de escolhas.
No filme “Trainspotting” (1996), o personagem principal ironiza todo o processo:
“Escolha a vida. Escolha um emprego. Escolha uma carreira. Escolha uma família. Escolha uma imensa televisão (...). Escolha os seus amigos. (...) Eu prefiro não escolher a vida.”
Em outro filme, “The Dark Knight” (2008), Alfred diz:
“Alguns homens não estão procurando algo lógico, como o dinheiro. Eles não podem ser comprados, intimidados. Alguns homens só querem ver o mundo pegar fogo.”
Kafka ironiza o cotidiano do ser humano, por exemplo, em “Metamorfose”. Seríamos insetos. Descartáveis. Mais do que isso: seríamos insetos que os outros, inclusive os familiares (que sempre procuramos apoiar e ajudar), desejam descartar.
Tudo isso lembra Nietzsche, no livro “Humano, Demasiado Humano”, quando afirma que os “indivíduos fracos deveriam ser descartados como insetos desagradáveis.”
Insensibilidade. Talvez. Irreal. Não. Basta olhar ao seu redor. Basta olhar no espelho (da sua vida). Com o outro, claro, não seria diferente. Jogos de Imagens. Jogos de Espelhos... Distorcidos. Repetidos. Envelhecidos.
Se a vida não faz sentido, o que fazer aqui? Alfred responde: “Some men just want to watch the world burn.”
Alguns homens não são somente “observadores sociais entediados”. Eles gostam de ações que, se possível, despertem o apocalipse que daria alguma lógica a uma existência sem sentido.
EXCLUSÕES
Existe um mito comum que associa algumas instituições ao processo de cura do indivíduo.
A pessoa, na teoria, vai ao hospital quando passa mal, sofre algum ferimento, enfim, está doente. A estrutura física do hospital seria uma forma de protegê-la dos outros riscos do mundo externo. Entretanto, isso não é verdade. Ocorre o contrário: o espaço fechado do hospital representa uma forma de defender e de separar os indivíduos saudáveis da sociedade dos doentes daquele lugar. Não é aceito, mas o hospital é um lugar que também produz doença. Trata-se do tradicional caminho antes da morte.
É dito que a prisão seria um lugar para recuperar o preso para o convívio na sociedade. Na prática, porém, lá a pessoa aprende novas modalidades de crimes e torna-se mais perigosa diante dos outros. O objetivo de deixá-la trancada numa prisão é também proteger as pessoas da sociedade, que, de fato, não se interessam pelo que acontece “lá dentro” (desde que os criminosos continuem presos).
Antes havia o hospício e a clínica. O hospício, atualmente, é visto com várias restrições em muitos países. Não importa. A intenção nos dois casos é excluir indivíduos considerados “diferentes” (mesmo que eles não sejam criminosos) do convívio social. Trancar alguém num hospício ou numa clínica seria como colocar esse alguém (normalmente é um parente) embaixo do tapete para não causar constrangimentos às visitas ou aos vizinhos. Seria como passar a borracha em alguém para que a tal família mantivesse a aparência de normalidade.
Objetivos similares podem ser associados aos asilos e às instituições de recuperação de menores de 18 anos.
Em regimes democráticos, estas instituições servem para dar um caráter “civilizatório” à crueldade humana.
Em regimes totalitários, como o nazismo, nem isso era necessário: bastava colocar os excluídos em campos de concentração, torturá-los, utilizá-los como “objetos de experiência” ou simplesmente assassiná-los. Neste caso, não havia muito debate não só pela repressão dos nazistas mas também e principalmente por causa da superioridade da raça ariana. Ou seja, o que era “descartado”, enfim, não era considerado “humano”.
Freud dizia, na época, que “se antes ele seria queimado vivo, agora [no nazismo] eles se contentavam em queimar os [seus] livros.”
O “antes” que Freud se referia, claro, era o período da Idade Média, quando a Igreja Católica tinha o monopólio do poder ideológico e condenava a morrer (nas fogueiras) as pessoas (sobretudo as mulheres) que discordavam dos seus dogmas.
O Brasil é considerado um país “jovem”. Contudo, em seu período republicano, as pessoas sofreram muito sob duas ditaduras: a do Estado Novo de Getúlio Vargas e a Ditadura Militar. Apesar de não existir uma ideologia tão sofisticada como o nazismo (por isso essas ditaduras eram classificadas como regimes autoritários), os instrumentos de repressão física (prisões ilegais e torturas, por exemplo) funcionavam “normalmente”. Em suma, caberia ao Estado "limpar" a sociedade e deixar somente um padrão de indivíduo: aquele que não questiona, o que faz o que todo mundo faz e acredita no que todos acreditam. Existe uma música do Pink Floyd que trata deste tipo de pessoa: "Comfortably Numb".
PAIS E FILHOS
O indivíduo nasce e o primeiro contato que ele tem, obviamente, é com a família. Ela é o seu núcleo básico para a sobrevivência. Não foi por acaso que Freud deu tanta importância para a figura do pai.
O clã representaria a reunião de indivíduos ligados pelo parentesco, por um ancestral comum.
A tribo seria a reunião de várias famílias e uma cidade-estado significaria a reunião das tribos (houve, como exemplos, Atenas e Esparta).
A realidade atual, com a delimitação de um território associado a uma nação e a um Estado, apareceu lentamente após a Idade Média (quando os indivíduos se organizavam em feudos autônomos e havia a unificação ideológica feita pelo cristianismo, representado pelo poder da Igreja Católica).
Esta síntese (bem simples) serve para mostrar que a realidade de hoje (com suas leis instituições, entre outras coisas) não existiu desde sempre. Houve outras formas de organização de indivíduos durante a história da humanidade. Serve ainda para mostrar um “olhar” sobre o passado, que é o ponto de vista da Europa Ocidental. Serve também para ressaltar a relevância da família em todo o processo.
Os pais exercem um grande poder na família. Não poderia ser diferente. Este poder não vem só de uma forma autoritária. As ideias e sobretudo os atos dos pais influenciam bastante a formação dos filhos. Os pais, de certa forma, influenciarão os comportamentos dos filhos na vida adulta.
Os filhos tornam-se uma representação distorcida e complexa das atitudes dos pais. O que acontece hoje na sociedade, na verdade, foi “plantado” e produzido, anteriormente, no período da infância.
Em outras palavras, os pais não podem simplesmente reclamar dos filhos ou de uma sociedade violenta e sem valores, afinal, os seus atos (20 anos atrás) contribuíram para isso.
Os pais, ironicamente, sofrem as consequências do que “plantaram” (de uma maneira consciente ou não). Não são vítimas. Não adianta culpar a ideologia “geral” do Estado que existe para defender os interesses de uma elite. Não resolve falar em “destino” nem em religião. De fato, os pais podem querer ser qualquer coisa exceto vítimas deste processo.
RELIGIÃO E PREVISIBILIDADE
Algo inesperado aconteceu em 2013., sendo gravado a partir de vários carros:
“No amanhecer de 15 de fevereiro de 2013., uma imensa bola de fogo --um meteoro-- assustou os moradores de Tcheliabinsk, na Rússia. (...) a explosão do asteroide ao adentrar a atmosfera teve a força de 500 mil toneladas de TNT. (...) [Foi afetada] uma área com uma população superior a 1 milhão de pessoas.” *
Apesar de toda a tecnologia que supostamente garantiria a segurança do planeta, o que chamou a atenção foi a imprevisibilidade do acontecimento. Em outras palavras, não existe, de fato, estabilidade ou segurança tanto no âmbito individual como do ponto de vista coletivo.
A indefinição quanto ao futuro leva muitos a buscar abrigo numa religião. Ela promete aquilo que a ciência não pode garantir.
A religião aparece como uma verdade apresentada fora da humanidade, logo as suas leis não podem ser questionadas. Essas leis determinam as ações das pessoas. Elas se subordinam às essas leis na medida em que “descobrem” qual caminho deveriam seguir e, como as leis são dogmas (não podem, teoricamente, mudar), as consequências dos atos (bons ou ruins) seriam “previsíveis”.
As pessoas, neste processo, não decidem sobre as suas vidas, tornam-se quase robôs pré-programados a agir desta ou daquela maneira. As suas escolhas não são escolhas porque ocorrem dentro do universo da religião e dos seus dogmas. A liberdade é limitada pela religião, ou seja, ela não existe. Assim, como “não há mais lugar algum para a justiça ou a responsabilidade (seja ela jurídica, política ou ética). **
Optar por uma religião significa abrir mão de si em nome de uma verdade determinada pelo outro. A fé é o principal instrumento no conhecimento teológico. Neste caso, como quase tudo na democracia, a opção deve ser respeitada.
(*) Salvador Nogueira. Cientistas desvendam origem de meteoro que explodiu na Rússia. Folha de São Paulo, 07/11/2013..
(**) Jacques Derrida, Filosofia em tempo de terror, p. 144.
"ROLEZINHO"
Existe um novo uso das redes sociais. Trata-se do chamado “rolezinho”, encontro marcado por dezenas de jovens em shopping centers em São Paulo. O ato gera pânico e mesmo saques em lojas, com correrias e prisões.
É irônico na medida em que sempre foi dito que o shopping center seria “a praia do paulistano”. Lembra, claro, os arrastões nas praias do Rio de Janeiro.
Ocorre ainda o reforço da desmistificação do shopping center como um lugar seguro para compras e diversão. Os assaltos e até assassinatos já aconteciam nestes lugares. Agora com os “rolezinhos”, a velha imagem parece estar bastante “manchada”.
Outra questão seria a soma de fatores que podem levar a resultados desastrosos: jovens desempregados, impunidade e o uso inadequado das redes sociais. Tudo isso pode ser associado ainda as ações dos “Black Blocs”.
Em suma, a aplicação das políticas neoliberais no país, ressaltando especificamente a falta de investimento em educação e a ausência de perspectivas para o futuro, associada a popularização da tecnologia (celulares modernos, tablets e Internet) desmascara a ideia de que a espera pública seria um lugar seguro por causa da atuação do Estado.
JUVENTUDE TRANSVIADA EM 2013
As pessoas costumam dizer que os jovens, atualmente, são mais liberais e radicais: Piercing, Tatuagem, bissexualismo, sadomasoquismo, automutilação, entre outras coisas. Eles começam cada vez mais cedo, 12, 13, 15 anos... Bebem muito, claro, alguns gostam de feitiçaria e outros até participam de orgias em cemitérios (como foi noticiado o caso de Curitiba no ano passado).
Muitas pessoas que criticam os jovens são os pais que foram omissos na educação ou foram responsáveis diretamente por tais “desvios”, sobretudo os padrastos que molestaram (até com abusos sexuais) meninas (filhos de outro homem) quando tinham menos de 10 anos. Contavam com as mães (que supostamente precisavam estar casadas) como aliadas.
Os traumas da infância são negados ou “esquecidos” na adolescência. Entretanto, no início da vida adulta, tudo aparece claramente. Para fugir dos traumas, os jovens buscam alternativas nas drogas ou no excesso de bebida ou sexo. Valeria tudo para não pensar no que ocorreu na infância. Isso explicaria muitos casos de prostituição, homossexualismo, bissexualismo, sadomasoquismo e automutilação – que são tão comuns hoje em dia.
Existiram mudanças sociais que propiciaram também este quadro, como os mitos do cinema associados à “juventude transviada” nos anos 1950 (James Dean e Marlon Brando), os movimentos da década de 1960 (pela liberdade sexual e pelo feminismo) e ainda a ideia de “produção independente” tão comum depois dos anos 1980, que defendia a tese de que o homem seria “descartável” e, de certa forma, rompeu com o modelo de família “tradicional”.
Muitos podem discordam, mas a crise de autoridade atual tem a ver com a ausência da “figura paterna” na criação destes jovens. O resultado, além do que já foi citado, veio também na forma do aumento da violência e do egoísmo excessivo. Falta, para muitos jovens, o altruísmo, ou seja, a percepção das relações também sob a visão do outro.
O quadro social hoje é este. A tendência é piorar na medida em que muitos jovens tiveram filhos e não saíram das casas dos pais. Em outras palavras, as pessoas que criaram a situação que se vive atualmente, estão cuidando, na família, da próxima geração, dos netos. Pode ser considerado pessimismo, mas se o resultado foi ruim uma vez, dificilmente dará certo com a outra geração.
A ATENÇÃO DO OUTRO
O homem, dizem, é um animal social. Depende do outro. Mais do que isso, precisa da atenção do outro. Simples assim? Talvez... não...
Como alguém chamaria a atenção do outro?
Bastaria dirigir uma Ferrari vermelha (a cor em si conta muito).
Impressiona também possuir iate, helicóptero e avião.
Poderia ainda morar numa mansão, possuir belas casas na praia e no exterior.
Tornar-se celebridade, aparecer constantemente na mídia, ser fotografado e filmado em todas as festas famosas. Tudo isso seria possível se a pessoa for bastante atraente fisicamente ou ter fama de possuir muito dinheiro.
No caso da mulher, conta parecer jovem, roupas caras, microssaias, decotes, saltos altos e sorrisos fáceis.
No caso do homem, basicamente, bastaria parecer ser rico (com o que foi citado anteriormente).
Chamar a atenção do outro intencionalmente significa manipular, como o trabalho de um mágico, ou seja, com um brilho ou um truque, o olhar do outro é desviado, ele fica vulnerável e torna-se presa fácil para o ataque (uma mulher que deseja casar, utilizando um exemplo antigo).
Existem riscos no ato de chamar a atenção do outro, como infidelidades conjugais, roubos, sequestros, assassinatos, impostos e investigações dos órgãos do governo (sobretudo a Receita Federal). Estupros e cantadas vulgares são riscos do universo feminino.
Poderia ser dito que tudo isso seria “muito barulho por nada” e que, na verdade, chamar a atenção do outro seria somente algo associado aos carentes ou aos indivíduos que desejam ostentar. Será?
CIVILIZADOS E APARÊNCIAS
O civilizado é, por definição, um dissimulado. Começa pela aparência. As mulheres, antigamente, tinham o monopólio desta “arte”. Trata-se daquela “velha” citação do Foucault:
"Engano possível sobre o corpo que os enfeites escondem e que se arrisca a decepcionar quando é descoberto; ele é rapidamente suspeito de imperfeições habilmente mascaradas; teme-se algum defeito repelente; o segredo e as particularidades do corpo feminino são carregados de poderes ambíguos." (Michel Foucault, O Cuidado de Si, p. 220)
Os homens, atualmente, em sua maioria, parecem também querer parecer algo que, de fato, não são. Inventaram até o conceito de “metrossexual”. Isso sem falar no uso de anabolizantes para inchar artificialmente o corpo. Botox? Cirurgias plásticas? Vale tudo para que o homem seja aceito como “atraente” na sociedade.
O que os homens e as mulheres querem esconder com tantas estratégias para “disfarçar” a aparência? Desejam omitir o que são: seres humanos imperfeitos, inseguros, impotentes, carentes, frágeis e solitários.
Hannah Arendt já dizia que o uso da violência era um sinal de impotência (leia em “A Condição Humana”).
O resultado de tanta dissimulação é um jogo de aparências, quando todos fingem que acreditam em todos. O homem finge que os seios da mulher são naturais (e não de silicone) e ela finge que aqueles músculos foram adquiridos naturalmente, com anos de exercícios em academias e com dietas adequadas.
Alguém um pouco sensato perguntaria: como chegamos neste ponto? Karl Marx falaria: todos tornaram-se mercadorias. Se isso for verdade, a aparência e o “makerting pessoal” seriam fundamentais para quem quer ser aceito numa sociedade de consumo.
O que nem sempre é lembrado em relação às mercadorias - no capitalismo – é que elas são descartáveis. As pessoas só são interessantes quando atendem o mercado, caso contrário, são desconsideradas, deixadas de lado, como se fossem invisíveis. Só não são sacrificadas porque “somos civilizados”.
Nós – os civilizados - necessitamos respeitar o outro, mesmo que isso seja o oposto do nosso desejo. Nós negamos nossos instintos naturais. As consequências, como destacava Freud, aparecem com as neuroses, os conflitos internos, os pesadelos e as doenças.
Alguns ainda tratam todo esse processo como uma “evolução” ou um “progresso” da humanidade...
Lulu (04-12-2013)
O relativo sucesso do website Lulu está associado ao vazio de temas na mídia e ao cinismo de alguns machistas que viram a sua privacidade violada e, por isso, desejam indenizações. Não existe novidade na ideia.
Existe um episódio de Two and Haf Men* que trata basicamente deste assunto, quando é criado o charlieharpersucks.com e o personagem principal da série passa a ter problemas nas suas conquistas na medida que os seus truques estavam todos na Internet, revelados pelos depoimentos de suas exs.
Não vi ainda a “vingança” dos homens com o website www.tubbyapp.com. Entretanto, pelos dados iniciais, parece que o nível das avaliações não ficará muito longe de uma conversa de bêbados num madrugada qualquer num “WC Masculino” – daqueles com as paredes pichadas e aquele cheiro “maravilhoso”.
Além da falta de assunto, o que revela este (“impressionante”) debate é a insegurança de cada um diante da opinião do outro, seja ela verdadeira ou não.
Presidentes de vários países, recentemente, reclamaram da espionagem do governo dos Estados Unidos. Se um presidente da República não tem privacidade na sua Internet nem no seu celular, o que dirá o cidadão comum.
Com a tecnologia que existe hoje, não dá para falar sério em segredo - seja no nível das relações dos chefes de Estado seja nas relações entre adolescentes com seus modernos celulares e tablets. Não é só "o rei está nu". Não existe privacidade. A velha diferença entre a esfera pública e a esfera privada desapareceu na realidade atual.
(*)www.youtube.com%2Fwatch%3Fv%3DIUCTqEVSlEw&ei=KaKfUt-aC9SuqwGGrYGYDA&usg=AFQjCNGgfRh8ZBpD3JQtaezoP07QGTG3KA&sig2=GOjFmz9pmXzrV6ytGY_rQw&bvm=bv.57155469,d.aWM
QUEM NECESSITA DE QUEM?
A pessoa NECESSITA de algo e não possui? Essa é a questão central. Neste contexto, ela fica com falta de apetite, irritada, frustrada, não dorme direito, enfim, assumindo ou não, de fato, ela está em crise.
Necessidade é a palavra chave. Quem necessita de quem?
A pessoa que finge que não necessita do outro, na realidade, exerce o poder. Ela controla, domina e humilha o outro. Trata-se de um jogo, no qual algumas pessoas – que são verdadeiros castelos de cartas – conseguem disfarçar a fragilidade e as outras – as “sinceras” – entregam quase que imediatamente que necessitam do outro.
Quem são essas pessoas “sinceras”? Alguns exemplos:
. a pessoa tem medo da solidão e necessita de amigo(s);
. a pessoa necessita de um emprego – envia currículos, faz entrevistas, cursos, torna-se cada vez mais qualificada – mas é rejeitada e humilhada pelo mercado;
. a pessoa é formada - tem um bom emprego, carro, apartamento próprio – quer casar mas não consegue pretendente pois está com mais de 30 anos;
. a pessoa quer um filho e não encontra um parceiro.
Solução? Basta lembrar que é um jogo de frágeis castelos de cartas. O outro não é melhor nem tem poderes especiais. É, como qualquer um, nas palavras de Nietzsche, “humano, demasiado humano.”
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Une personne à besoin de quelque chose et ne pas avoir ? C'est la question centrale. Dans ce contexte, il n'y a pas d'appétit. Le personne ne dort pas bien. Il y à une crise. La nécessité est le mot clé dans la societé.
Une personne qui prétend pas besoin d'un autre exerce effectivement le pouvoir . Il contrôle , domine et humilie l'autre . Il n'est pas un « superman ». En fait,il est un château de cartes. Mais l’autre est «sincère» (il reconnaît tout de suite qu'il faut une autre personne).
Qui sont ces gens sincères? Types :
. peur de la solitude ;
. quelqu'un a besoin d'un emploi mais est rejeté et humilié par le marché ;
. une femme est formé mais ne peut pas se marier parce que elle a plus de 30 ans ;
. une femme veut un enfant (tomber enceinte), mais elle ne peut pas trouver un homme pour accomplir sa volonté.
Solution ? Rappelez-vous juste que c'est un jeu de maisons fragiles de cartes.
L'autre n'est pas mieux. Oui, les mots de Nietzsche : il est "humain, trop humain ."
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Se você pegar o texto em português e colocar no Tradutor do Google, verá que a tradução sairá um pouco diferente pois « a máquina de tradução » ainda comete mais erros do que os seres humanos... rs...
Com as censuras aos meus textos (nos blogs) em inglês, agora tento escrever algo inédito (ou traduzir o que já escrevi) para o francês.
Apesar de reconhecer que escrever em inglês seria bem mais fácil, de que adiantaria publicar algo que seria censurado logo em seguida?
profelipe.10-12-2013..
DIPLOMADOS DESEMPREGADOS
Escrevi recentemente um texto com o título "O Mundo Acabou".* Não sei se quem leu entendeu o que eu queria dizer. Muitos acham que sou pessimista. Se isso for verdade, pelo menos não sou o único.
Os intelectuais sempre problematizaram a condição humana e raros foram otimistas quanto ao futuro do homem civilizado. Freud, em 1930, escreveu:
"A questão fatídica da humanidade parece-me ser saber se, e até que ponto, o seu desenvolvimento cultural conseguirá dominar a pertubação de sua vida comunal causada pelo instinto humano de agressão e autodestruição." (O mal-estar da civilização, p. 111)
Esse instinto vale tanto na perspectiva individual quanto coletiva, social. O pessimismo de Freud fazia sentido. As pessoas, esclarecidas ou alienadas, cada vez mais são descartadas "pela economia" e não encontram alternativas dignas para viver.
Indivíduos formados em faculdades, que antes se consideravam de classe média - com boa moradia, carros e poder de consumo -, tornaram-se moradores de rua em países como Grécia, Portugal ou Espanha. Na África não é diferente:
“(…) parte de um grupo nacional chamado Diplomados Desempregados. Eles juntaram forças ao protesto de cerca de 160 membros do movimento, que tinham como objetivo ocupar um edifício administrativo do Ministério do Ensino Superior. (…) A taxa de desemprego oficial de Marrocos é de 9,1 por cento a nível nacional, mas é 16 por cento entre os trabalhadores qualificados.” **
Diplomados Desempregados? O problema na África é mais grave pois muitos adotam a autoimolação para chamar a atenção das autoridades. O protesto assume a sua forma mais radical.
De certa forma, Eric Hobsbawm, em 1999, previu o que acontece atualmente no mundo:
"... [a economia] está lançando um número crescente de homens e mulheres numa situação que não podem mais recorrer a regras claras, perspectivas, senso comum: uma situação em que não sabemos mais o que fazer de nossas vidas, tanto no plano individual como no coletivo. (...) não consigo olhar o futuro com muito otimismo." (O novo século, p. 194)
De fato, não é um crise passageira. Trata-se de uma mudança estrutural no capitalismo. A questão não é ser otimista ou pessimista. Basta ler os jornais. A realidade está aí e as pessoas não acreditam mais em projetos coletivos.
Mesmo os alienados percebem que existe algo de errado no ar... Sofrem as consequências do que acontece no mundo mas não compreendem a dor e apelam para a ilusão de que "um dia tudo vai melhorar" ou se apegam aos dogmas de alguma religião.
A crise social agrava a crise individual. Ninguém é intocável. Não existe mais volta e todos estão no mesmo barco.
(*) http://flertar.blog.com/2013./11/07/o-mundo-acabou/
(**) Essa citação foi utilizada em outro texto. BAKRI, Nada. Self-Immolation Is on the Rise in the Arab World. New York Times, 20/01/2012. http://www.nytimes.com/2012/01/21/world/africa/self-immolation-on-the-rise-in-the-arab-world.html?_r=1&smid=tw-nytimes&seid=auto
CULPA E INSÔNIA
A noite chega e o sono não. Os remédios não fazem efeito. Tema batido? Por que, então, você não dorme? A mente, como diriam os filósofos antigos, seria como um "cavalo selvagem"?
A questão fundamental é: você, com a sua idade e a sua experiência de vida, está (hoje, no presente, no aqui e agora) no lugar e na situação que você imaginava quando era mais novo (a)?
Nada de "enganar a si mesmo". O seu projeto de vida deu certo até agora?
A avaliação do tipo custo-benefício na vida (entre os bons e maus momentos) não resolve o incômodo atual. Falta algo.
O "vento virou", diria Corinne Maier, não existe mais segurança nem estabilidade.
Experiência profissional, aposentadorias, empresas sólidas (como as do Eike Batista?), diplomas e carreiras tornaram-se expressões vazias, como se não estivessem conectadas com a prática cotidiana do mundo real.
Encontrar o culpado pode ajudar a compreender o processo atual mas, definitivamente, não resolve o problema.
O mal-estar permanece. A insônia, no contexto atual, talvez seja um dos menores problemas.
"BURNOUT"
Existem características em comum entre a depressão e o “burnout”:
. o sentimento de vazio;
. a falta de motivação;
. o desinteresse pelo que acontece no mundo exterior;
. a falta de preocupação com as pessoas mais próximas, como amigos e familiares;
. a autoestima praticamente desaparece.
As diferenças entre os dois casos são claras também.
Na depressão, o indivíduo carga a culpa e acredita que precisa ser punido. O peso que ele carrega pode levar ao suicídio.
O “burnout” é resultado do excesso de trabalho. Acontece mais com os jovens, que, no início, acreditam que os seus projetos serão realizados e reconhecidos. Alguns são utópicos, imaginam que podem transformar o mundo. São ambiciosos. Trabalham até mais de 60 horas por semana. Existe uma busca obsessiva pelo sucesso.
As consequências destas ações podem levar ao esgotamento físico e mental. Não realizar os seus projetos pode levar a sentimentos como depressão, ansiedade, inveja e raiva. Estes indivíduos são vistos pelos outros como fracassados.
Existe ainda uma diferença entre os que sofrem o processo de “burnout” e o depressivo: muitos colocam a culpa no outro (mercado, empresa, colegas, familiares...). Diante de tal quadro, tornam-se irônicos e o mal humor predomina. O que era idealismo é transformado em ceticismo.
Em suma, trata-se de uma “doença” produzida pelo neoliberalismo.
LEVEZA E DIVERSÃO
Os instintos básicos (alimentação, sono, vida sexual...) devem estar (constantemente) satisfeitos. Se isso não ocorre, acontece uma crise pessoal (esse não é o único tipo de crise, por exemplo, o nazismo foi uma crise coletiva, social).
Existem três formas comuns que um indivíduo utiliza para resolver uma crise pessoal:
Primeiro, troca a realidade pela fantasia. Ou seja, não admite que existe algo errado.
Segundo, preocupa-se com a vida do outro, com os problemas do outro. Trata-se de uma forma de desviar o foco (quanto a si mesmo).
Terceiro, admite a crise mas a culpa seria do outro. Não existe autocrítica.
Fugir da crise é difícil. Existe um incômodo no corpo, na mente. Aparecem sinais. Insônia. Manchas no corpo. Falta de apetite.
A origem da crise está no passado. Aconteceu algum trauma que a pessoa tem medo de passar por aquela situação novamente. Ela tenta apagar o trauma da memória, mas ele permanece no inconsciente.
O trauma “faz aniversário” e isso gera aquela tristeza sem explicação. A morte de um familiar, por exemplo, que aconteceu em 15 de fevereiro de 2001. Apesar do indivíduo ter vivido o luto e, teoricamente, ter superado a dor, quando chega fevereiro, aparece um certo mal estar.
O “aniversário” pode tornar-se, inconscientemente, um padrão. Ou seja, a pessoa acredita que em cada fevereiro acontecerá algo ruim.
Quanto mais traumas, mais “aniversários” e a vida torna-se mais complicada. Só piora a situação o fato de não admitir as frustrações, decepções e traições.
Não assumir o que o indivíduo é, de fato, o seu corpo, os seus desejos, a sua idade... Tudo isso cria um nó (ou vários) na vida da pessoa. Ela, com o tempo, se vê envolvida numa rede múltipla e caótica de problemas, crises, frustrações, decepções, traições (tanto explícitas no corpo e na mente, como ocultas).
Para melhorar, o indivíduo precisa, sinceramente, buscar a (s) causa (s). Fazer o percurso ao contrário: parte do incômodo do presente e caminha em busca de sua origem no passado.
Compreender o processo e saber o que acontece, de fato, no cotidiano, pode tornar a vida mais leve e divertida na medida em que o indivíduo descobre que não precisa ter medo do seu verdadeiro “eu” e nem do seu passado.
EXCESSOS
A noite é definida antes da pessoa sair de casa. O seu estado de espírito será determinante para dizer como será o dia seguinte.
Os excessos – bebidas, drogas, paqueras, brigas, entre outros – serão apenas instrumentos para realizar algo que já estava traçado pela pessoa. Tristeza, frustração e rejeição fazem parte deste processo. Alegria e satisfação também, dependendo do estado de espírito de cada um.
Existem pessoas que bebem ou cometem outros excessos para esquecer os problemas do cotidiano ou ainda algo mais grave, como um trauma na infância. Não resolve. Piora. Elas estarão bem piores no final da noite.
Alguns falam em ressaca moral, mas pode ser mais complicado. No caso de algum trauma, além do mal estar, elas terão que enfrentar, ao dormir, tudo aquilo que queriam esquecer... em pesadelos terríveis que parecem cada vez mais reais.
A tentativa de fugir do inconsciente não funcionou. Ele é implacável e a dor produzida, invisível e solitária, é tão intensa que leva a alguns na escolha de algo até então impensável.
Tudo isso pode tornar-se um ciclo de autodestruição. As fotos produzidas para as redes sociais, com gente bonita e belos sorrisos, parecem não enganar mais, o mesmo acontece com a constante troca de elogios tanto pessoalmente como pela Internet.
O tempo passa e a situação piora. Ficar em casa, vendo televisão e comendo, pode ser pior. Engorda. Piora a já debilitada autoestima. Mais gorda, mais a pessoa quer ficar em casa, quer esconder do outro e de si mesma. Entretanto, o problema, como antes, não está na aparência física. Ele vem de dentro... A emoção não pode ser controlada e os erros – escondidos no inconsciente – insistem em voltar a incomodar, sobretudo em momentos de fragilidade.
Não existe solução. Alguns diriam que o tempo seria a melhor resposta. Talvez. Mas nem ele resolverá o mal estar existencial da condição humana.
OTIMISMO
Algumas pessoas têm medo de pensar. Outras acreditam que ler só ajuda a inventar problemas. Filosofia, Política, História, Sociologia, nesta perspectiva, não seriam úteis.
Trata-se de uma postura (preconceituosa e) equivocada. Toda forma de conhecimento serve para ajudar o ser humano no seu cotidiano. A teoria só faz sentido em função da prática:
“A filosofia existe para que as pessoas possam viver melhor. Sofrer menos. Lidar mais serenamente com as adversidades.” (Essa e as outras citações foram retiradas da Época, 22-01-2007, p. 67-73)
Nesta revista, são utilizadas ideias e citações de vários filósofos da Grécia Antiga no sentido de “serenar a tempestade da alma” (Montaigne) Em outras palavras, qualquer um sente dificuldade em controlar a própria mente, sobretudo naquele momento, que após um longo dia de atividades exercidas, o indivíduo pretende dormir e ter um sono tranquilo. A insônia aparece tanto com questões do dia como também com experiências passadas e preocupações quanto ao futuro.
Os filósofos apresentam algumas sugestões. Demócrito: “Ocupe-se de pouco para ser feliz.” Privilegie o equilíbrio, a calma, a serenidade, a linguagem simples, o silêncio, o riso e a paciência. “O futuro é fonte de desassossego”, portanto, seria necessário viver o “aqui e agora”. Para Sêneca, seria “preciso livrar-se da agitação desregrada, à qual se entrega a maioria dos homens.”
Algumas coisas acontecem independentemente da vontade do indivíduo. Epiteto, assim, afirmava:
“Não se deve pedir que os acontecimentos ocorram como você quer, mas deve-se querê-los como ocorrem: assim sua vida será feliz.”
Sentimentos negativos devem ser evitados. “O homem sábio nunca tem maldade e sempre esquece as injustiças de que é vítima.” (Aristóteles) A maioria vê como problemáticas negativas a morte e o envelhecimento. Fugir de pensar (nestas temáticas) seria um erro. Montaigne: “O remédio do homem vulgar consiste em não pensar na morte. (...) Isso é uma demonstração de cegueira e estupidez.”
No que diz respeito ao envelhecimento, a leitura e a reflexão sobre o passado podem ser aliadas. De acordo com Cícero, “a memória declina se não a cultivamos ou se carecemos de vivacidade de espírito.”
Em resumo, as sugestões do que seria razoável na velhice, na prática, servem para qualquer idade: cultivar a memória, ser “intelectualmente ativo” e não abandonar as atividades físicas. Se não trocar o passado ou o futuro pelo presente, o dia-a -dia, certamente a vida pode ser mais tranquila e prazerosa.
CRISE E CAUSA
Quando uma pessoa entra em crise, muitas vezes, ela procura um culpado. Nem sempre funciona. A grande pergunta neste momento deve ser: qual foi a causa? Alguns não gostam de pensar o próprio passado... mas existe outra alternativa? A origem do mal-estar do presente está no passado, algumas vezes, até na infância.
Experiências desagradáveis produzem recalques, que geram resistências internas em admiti-los. Eles são, assim, retirados da consciência, do lado racional, e escondidos no inconsciente. Certamente não seria possível acreditar que eles simplesmente desapareceriam. Viveu algo... Ficou gravado em sua mente.
A alienação começa quando a pessoa tenta fugir do passado desagradável. Não dá. Aqueles traumas escondidos voltam a perturbar no presente: primeiro, com processos como insônia, falta de apetite, desinteresse sexual e marcas no corpo; depois, pode ficar sério pois os riscos são: ataque cardíaco, AVC, loucura ou suicídio.
Para evitar tais situações, é necessário admitir a crise. É importante parar de se enganar e identificar a origem dela. Problematizar pode não trazer uma resposta imediata, mas saber a causa do problema representa um avanço na história do indivíduo. Ele começa a ficar mais a vontade com o seu passado e isso melhora o presente, o seu cotidiano.
Os pesadelos não param. Quem se importa? O fundamental é dormir e, claro, saber o significado dos sonhos. A pessoa, afinal, passa um terço da vida dormindo e não seria razoável desprezar as mensagens que são emitidas do sono, mesmo que, aparentemente, elas pareçam bizarras e sem sentido.
O HOMEM E O SELVAGEM
Priscilla Roth faz uma afirmação polêmica no seu livro "O Superego" (p. 20-21):
"Muitas são as recompensas da vida civilizada; acima de tudo, a vida é mais segura numa sociedade civilizada."
Trata-se, de fato, de um erro na medida em que tal segurança não existe. O civilizado reprime os seus desejos - instintos naturais para atender as expectativas dos outros (família, amigos, igreja, escola, mercado, entre outros). Para tanto, ele ocupa o seu cotidiano com bastante trabalho para acumular bens materiais e, devido a ansiedade e o estresse desse processo, pode morrer com um ataque cardíaco.
Não existe, na condição humana, algo como segurança (ou estabilidade). O que existe é morte e os bens materiais em nada ajudam nesse momento.
Quanto ao estilo de vida do civilizado, Freud fez uma observação interessante :
"O selvagem, assim como o animal, é cruel, mas ele não tem a maldade do homem civilizado. A maldade é a vingança do homem contra a sociedade pelas restrições impostas a ele. É essa vingança que dá vida ao reformista profissional e as pessoas intrometidas. O selvagem pode cortar a sua cabeça, comê-lo, torturá-lo, mas ele vai poupá-lo das pequenas provocações que (...) tornam a vida em uma comunidade civilizada quase intolerável." (A arte da entrevista, p. 95)
Mais uma vez, Freud estava certo.
JUNG & HEIDEGGER
É interessante a relação entre Carl Jung e Martin Heidegger com o nazismo. Jung teve uma paciente e amante judia. Heidegger teve um caso com uma aluna judia.
A intenção, aqui, não é tratar das relações entre os arianos e as judias. O que chama a atenção é, por um lado, a quebra de uma hipócrita norma social de monogamia no casamento - ambas são amantes - e, de outro, o rompimento de um "protocolo profissional" - médico/ psicanalista e paciente (Jung) e professor/aluna (Heidegger).
O controle do outro, provavelmente, estaria por trás da criação de tais convenções sociais. Elas são produzidas e mudam de acordo com as épocas históricas e com as sociedades.
Num modo de produção como o capitalismo, no qual o elogio ao trabalho tornou-se algo fundamental, seria razoável esperar condenações morais (e até legais) quanto ao rompimento destas normas.
O objetivo, neste sistema, seria produzir ao máximo - o "aceitável seriam oito horas por dia e seis dias por semana em um ambiente com outras pessoas (como uma fábrica ou uma loja).
Ainda assim, em tal ambiente, com homens e mulheres passando tanto tempo juntos, espera-se que não exista qualquer tipo de envolvimento amoroso.
Em outras palavras, não bastaria a tortura do trabalho. Tentar controlar a libido e proibir as relações sexuais seriam formas de controlar o outro, roubando o seu tempo, o seu espaço, a sua mente (imaginação) e o seu prazer sexual (mesmo fora do trabalho)
RISCOS
Seduzir é divertido. Exercer o poder sobre o outro deve ser fascinante. Mas e os riscos? Trata-se, como diria Foucault, de uma via de mão-dupla.
Basicamente, a questão seria: o que você provoca no outro? Existem consequências, claro. Existem as tais "condições externas aleatórias". Teoria do caos. Ou seja, mais do que um jogo de causa e efeito, tudo isso provoca uma dinâmica na qual não existem garantias.
A intenção seria essa? Perder o controle da situação? Quem joga estaria efetivamente consciente dos riscos?
Afinal, sempre deve ser lembrado que, nas relações entre adultos, não existe espaço para a ingenuidade.
VIRGINDADE
Ninguém se importa, atualmente, com o tabu da virgindade. Muitas garotas acreditam que isso seria só um "detalhe técnico".
Muitos homens se recusam a ser "o primeiro". Tal atitude não ocorre por acaso:
"Podemos dizer então (...) que o defloramento não tem apenas a única e civilizada consequência de amarrar a mulher permanentemente ao homem: desencadeia, também, a reação arcaica de hostilidade para com ele, que pode assumir formas patológicas." (Freud, O Tabu da Virgindade, p, 112)
Claro que "amarrar a mulher ao homem" pode parecer um exagero. Agora "a reação arcaica de hostilidade" ainda é bastante atual. O homem que já fez amor com uma ou várias virgens compreende essa observação.
A vingança feminina assume as mais diferentes e terríveis formas, ou nas palavras de Freud, "pode assumir formas patológicas." Em suma, o homem se depara com um lado que ele desconhecia na mulher: a vingança. O choque é tremendo. O arrependimento não resolve. Ele carregará em si algo como um medo de que a qualquer momento aquela mulher aparecerá do nada e arruinará a sua vida. Exagero?
"O tabu da virgindade, que nos parece tão estranho, o horror com que, entre os povos primitivos, o marido evita o ato de defloramento, são plenamente justificados por essa reação hostil." (Freud, p. 112)
Sem tratar da virgindade e sim da vingança, bastaria assistir ao filme "Atração Fatal" e, caso o homem não tenha tendências suicidas e afinidade com autodestruição, seria necessário torcer para que a ex-virgem encontre "o amor da vida dela" e o esqueça completamente.
CANTADAS
Alan Harper ficou indignado quando soube que o seu irmão olhava o decote da sua ex-esposa. A resposta que ele ouviu de Charlie Harper foi: "hey, eu sou homem."
Charlie estava certo. Trata-se de uma questão de instinto. O homem ao tornar-se civilizado tenta controlar o seu lado "animal", mas nem sempre consegue. É a natureza, diriam alguns.
Uma vez, uma amiga para implicar com minha namorada na época disse: "ih, eu já fui cantada pelo profelipe várias vezes."
Era verdade. Entretanto, não era algo especial na medida em que eu cantava praticamente quase todas as minhas amigas e as mulheres que conhecia.
O estranho seria uma garota sair comigo e não ouvir, com todo respeito, claro, uma indireta. As cantadas, em sua maioria, obviamente, nunca davam certo. Eu sabia. E insistia. Por quê? Instinto ou a velha frase do Charlie: "hey, eu sou homem."
Tudo isso não significa que eu seja uma maníaco sexual. Ao contrário, quem me conhece sabe que eu sou extremamente cavalheiro (isso leva algumas garotas a acharem o oposto da imagem anterior, ou seja, imaginam que eu seria gay).
Lidar com as relações humanas não é fácil. Seduzir uma mulher e compreender todos os sinais femininos é algo tão complicado como defender um tese acadêmica.
E então, o que fazer? O casamento poderia ser uma solução, pois o homem ficaria livre de ter que seduzir as outras mulheres e a sua esposa, bem, já seria "a" sua mulher.
Outra alternativa seria a prostituição. Não precisa seduzir. É algo objetivo, prático, como requer as relações capitalistas.
Entretanto, talvez pelo velho "instinto", essas alternativas não se apresentam atraentes ao homem. Ele precisa de desafio. Precisa conquistar. Caçar. Depois de dominada a "presa", o jogo perderia a graça e ele partiria para outra conquista. Costumavam chamar isso de machismo.
Voltando ao meu caso - que é o que realmente me interessa e por isso estou escrevendo sobre o tema -, já fui casado, já me envolvi com, digamos, relações de produção no campo sexual e, como disse no início, tento seduzir toda mulher com mais de 18 anos.
Os hipócritas poderiam falar que o meu caso deveria ter que ser tratado naquelas clínicas de viciados em sexo. Bobagem.
Digo hipócritas, aliás, porque os homens, com medo das mulheres, escondem que são casados ou que fazem sexo com prostitutas ou que cantam todas as mulheres que aparecem na sua frente.
Existiria alguma solução? Talvez, se eu não fosse um ser humano. No entanto, como todo animal, tenho instintos e o meu esforço civilizatório nem sempre consegue controlá-los. Ainda bem.
ZHIRINOVSKY & HOMOSEXUALIDADE
Para definir a heterossexualidade ou a homossexualidade como algo normal deve ser considerado, antes, a época histórica e o lugar. As formas amorosas hegemônicas no capitalismo não eram, por exemplo, as mesmas na Grécia Antiga.
Questionar se alguém nasce ou não homossexual é um retrocesso. A mesma pergunta não é feita no caso da heterossexualidade. Além do mais, antes de ser sexual, trata-se de um ser humano. Esse ser possui desejo que pode ser por homem ou por mulher. Esse desejo não é algo absoluto. Isso não significa que a pessoa mude a sua opção sexual o tempo inteiro e nem que ela teria alguma garantia de que a sua sexualidade seria aquela e que nunca mudaria.
Nem todos pensam assim. Muitos acreditam que a vida humana começou no capitalismo e que as suas normas seriam "naturais" e "eternas". Outros acreditam que um desejo seria natural e o outro seria uma "perversão". Muitos têm medo de problematizar a própria sexualidade. Acreditam no o fato de que bastaria ter nascido num corpo masculino ou feminino e, pronto, a sua sexualidade estaria definida.
Vladimir Zhirinosky apresenta uma teoria própria sobre o tema:
"A homossexualidade é um 'sputinik' (...) na história da humanidade. Mas não existem condições normais para relações sexuais harmônicas. Se as pessoas puderem casar ou ter relações sexuais no momento que desejam, ou se elas não estiverem isoladas, em exércitos ou prisões, talvez em 100 ou 200 ou 300 anos, a homossexualidade desapareceria." (Playboy, March 1995, p. 61)
Por um lado, Zhirinovsky esquece que o desejo por homem ou por mulher não tem a ver necessariamente em a pessoa estar num corpo de homem ou mulher. Por outro lado, é interessante a sua observação quanto as condições reais de existência como algo que incentivaria a prática do homossexualismo, como em exércitos ou prisões ou mesmo em lugares onde a população feminina seria muito menor que a masculina. Em outras palavras, com liberdade e desejo, um homem ficaria com uma mulher e não optaria pelo homossexualismo. Zhirinovsky estaria certo?
Conquistar uma mulher não é uma tarefa fácil. Podem existir situações em que o homem desista de uma relação normal e procure pagar pelos serviços de uma prostituta. Mas aqui surge um novo problema: se ele paga ele não é desejado. O homem, dificilmente, receberia uma cantada de uma mulher em um bar convencional.
Entretanto, se ele estiver num ambiente GLBT, a possibilidade disto ocorrer é maior. O problema não é se ele aceitará ou não o convite, mas a questão fundamental é que ele se sentirá desejado.
São características humanas - e não só femininas - sentir-se útil e sentir-se desejado. O fato do homem receber convites em um ambiente GLBT (e não em locais heterossexuais) talvez tenha a ver com a teoria (simplista, por sinal) que entre os homossexuais, muitos seriam "maníacos" e, portanto, estariam interessados apenas no sexo em si e não em desenvolver uma relação amorosa.
A problemática permanece. Não há como negar que a fêmea é exibicionista e que o macho seria um "voyuer". Definir, por exemplo, se a fêmea estaria necessariamente num corpo de mulher é outra questão. O que não dá, certamente, é ainda acreditar em conceitos absolutos nem que seria possível classificar um ser humano a partir de um único adjetivo. Em resumo, tais práticas têm mais a ver com regimes totalitários do que com sociedades democráticas.
MELHORAR
O excesso é um erro. É óbvio. A pessoa, principalmente depois dos 30 anos, começa a lidar com o estresse. Talvez o primeiro sinal seja a insônia.
As cobranças aumentam. As coisas, emocionalmente, pioram. Tomar vários remédios torna-se comum.
Chega, finalmente, o momento que todos evitam: ir ao psiquiatra - que até então era considerado médico de louco - e iniciar a fase com antidepressivos.
Ruim? Complicado é olhar para o lado e ver gente da mesma idade sofrendo com AVC ou ataque cardíaco. Alguns precisam ainda de psicoterapia.
Sempre pode piorar, mas essa não é a questão. O problema é quando a pessoa não quer melhorar.
Isso não significa suicídio ou algo parecido. A pessoa até aceita viver. O fundamental, para ela, é que não faz mais tanta diferença estar vivo ou não. Se ela gosta de fumar, por que deveria parar? Faz o que gosta na medida em que a morte é a certeza.
Isso, porém, incomoda os familiares e os amigos. Afinal, como lidar com a perda de uma pessoa querida?
Esse sentimento pode ser verdadeiro, mas o que realmente preocupa, talvez de maneira inconsciente, é ter com conviver, a partir da perda, com a ausência e a culpa.
Pode parecer estranho. Entretanto, os familiares e os amigos estão mais preocupados em como vão ficar depois da morte do amigo do que se ele queria continuar ou não nesta vida.
Trata-se de um ato egoísta no qual a pessoa amada representaria apenas um objeto numa fantasia de plena felicidade em que os familiares e os amigos criam para si mesmos e para os outros.
Triste? Nada. É só uma forma alienada de lidar com problemas da realidade.
Certamente esse é apenas um ponto de vista. Nem todas as pessoas são alienadas ou falsas quanto ao sentimento do amor.
Para essas que vivem intensamente com a pessoa amada, restam a dor da perda e o respeito por alguém que mais do que modelo serviu de razão para acreditar na vida, na ética, no respeito, na solidariedade e no verdadeiro amor.
IMBECILIDADE ²¹¹
Os homens civilizados pouco puderam fazer quanto ao processo de hegemonia da estética do corpo e da realização de instintos.
É constrangedor admitir, numa sociedade, o elogio do corpo em detrimento da capacidade intelectual da pessoa. O resultado disto aparece na superficialidade das relações sociais.
Não surpreende, portanto, ver uma maioria que acredita ser razoável trabalhar cinco ou seis dias e descansar (ter prazer) em um final de semana.
No caso brasileiro, a televisão ainda aparece como algo mais importante na educação dos indivíduos do que a escola ou a família. Aliás, que escola? Que família? BBB, Faustão, novelas, fanatismo no futebol, axé music... Isso sem citar o caráter religioso da população.
Pior do que o que os políticos fazem no Congresso Nacional, é reconhecer que eles são sim representantes de grupos significativos do povo.
Em suma, trata-se de uma população basicamente conservadora, na qual encontram-se racistas, corruptos, fanáticos religiosos, homofóbicos, nacionalistas, entre outros grupos antidemocráticos.
Como viver em um ambiente em que a imbecilidade é a norma? Freud estava certo quanto à espécie humana: o seu fim, definitivamente, não representaria a perda de algo relevante.
ISOLAMENTO ³¹²
Diante das dificuldades em lidar com o mundo externo, resta ao indivíduo duas opções: o isolamento ou o suicídio.
Como um Papa poderia supor que deveria tratar de lutas pelo poder, corrupção, casos de abuso sexual e pedofilia envolvendo a cúpula da Igreja? Fracasso é fracasso. Entretanto, talvez a escolha de Bento XVI tenha sido sensata.
A mesma coisa poderia acontecer com uma pessoa comum: como lidar com traições, falsidades e conspirações das pessoas mais próximas como familiares e amigos? Isolamento ou suicídio.
O isolamento é, sem dúvida, uma forma de evitar o suicídio.
Tentei o isolamento por quase dois anos. Não foi ruim. Talvez, algum dia, eu tente novamente.
REPETIÇÃO
Qualquer forma de ritual utiliza a técnica da repetição para confirmar certas ideias.
Existem psicoterapeutas que acreditam na catarse cuja base seria "a rememoração da situação traumática que gerou o sintoma e na revivência dos afetos que naquela ocasião não puderam ser 'ab-reagidos', isto é, eliminados." (Renato Mezan, A vingança da esfinge, p. 25)
Existe uma forma de repetição - um circulo vicioso - no sadomasoquismo. "No círculo vicioso de vergonha, aversão a si mesmo e depressão existe um desejo inconsciente de humilhar ou machucar outra pessoa. Os sadomasoquistas negam esse conhecido ciclo de sentimentos." (Estella Welldon, Sadomasoquismo, p. 46) Negam ainda a importância da infância em tal prática na vida adulta.
O essencial, em suma, é que a técnica da repetição aparece como uma forma de garantir um saber, um conhecimento. Seria quase uma maneira de "congelar" o passado.
É legítimo? Provavelmente essa não seria uma pergunta adequada.
O correto seria verificar caso a caso e somente a partir desse momento iniciar um processo de problematização.
Isso é feito? Raramente. Na nossa sociedade, mesmo entre os cientistas, ainda predomina uma busca por respostas fáceis e explicações simplistas.
ESPÉCIE HUMANA
Não tenho (mais) paciência com algumas situações.
Não me sinto obrigado a lidar com a indelicadeza, a insegurança e agressividade "disfarçada" de algumas pessoas.
Observo e me pergunto como fui parar ali (para não cometer o erro novamente, claro).
Sim, a culpa não seria dos idiotas que nem sabem "o que são de fato".
O erro seria meu de estar naquela situação.
Penso, em tais momentos, na "condição humana".
Lembro de Freud:
"Esforcei-me por resguardar-me contra o preconceito entusiástico que sustenta ser a nossa civilização a coisa mais preciosa que possuímos ou poderíamos adquirir, e que seu caminho necessariamente conduzirá a ápices de perfeição inimaginada." (O mal estar da civilização, p. 110-111)
Freud estava certo sobre a espécie humana.
OBSERVAÇÕES
* Não se esforce para convencer o outro de que você seria uma pessoa ética e interessante (pois você acabará revelando a sua verdadeira identidade).
* Fico, algumas vezes, cansado diante de certas pessoas da pequena-burguesia, assinantes da Folha de São Paulo e da Veja... que acham o Jô Soares um gênio e... acreditam verdadeiramente que "hiluxes" e smart-phones seriam símbolos de riqueza.
* Uma pedra "muito pequena" que não foi detectada antes da entrada na atmosfera atinge a Rússia com a "força de 30 bombas atômicas de Hiroshima" (telegraph.co.uk)...
e "o homem" acredita ser o centro de tudo e garantidor, pelo menos, da segurança e estabilidade do planeta em que vive...
INFANTILIDADE¹²
Afirmar algo como "a sua obra é interessante mas você não é" significa admitir que a interpretação do leitor é mais importante do que o conteúdo da obra (ou o que o autor "quis dizer" com ela).
Conhecer as duas dimensões - o que é a obra e quem é o autor - possibilita desmistificar os dois - autor e obra - e avaliar se realmente existe algo original naquele "processo".
Falar mal de si e desprezar a própria obra são estratégias defensivas (óbvias e infantis) que visam censurar o "olhar" do leitor.
CORPO: OBJETO DE AMOR
A frase atribuída ao poeta Vinícius de Moraes - "desculpem-me as feias, mas beleza é fundamental" - serve como ponto de partida para a reflexão de uma perspectiva histórica: o elogio do corpo. A valorização da estética do corpo humano não é uma invenção da sociedade capitalista.
Na Grécia Antiga, por exemplo, já havia um elogio ao belo corpo e existiam regras que visavam recomendar o que seria uma relação amorosa adequada. Entretanto, a visão do corpo nos dois modos de produção era oposta: no capitalismo, o corpo "existe" para o trabalho e, na Grécia Antiga, o corpo estava relacionado aos prazeres do ócio.
Entre os gregos, "o amor pelos rapazes" não pode ser confundido com os debates sobre o homossexualismo na atualidade.
Havia, na Grécia Antiga, uma "passagem da virtude do rapaz para o amor do mestre e para a sua sabedoria." (O uso dos prazeres, p. 210) Assim, de acordo com Michel Foucault:
"Aquele que é mais sábio em amor será também o mestre da verdade. (...) Na relação do amor, e como consequência com a verdade que, a partir daí, a estrutura, uma nova personagem aparece:
o mestre que vem ocupar o lugar do enamorado, mas que, pelo domínio completo que exerce sobre si mesmo,
modifica o sentido do jogo, transforma os papéis, estabelece o princípio de uma renúncia aos 'aphrodisia' e
passa a ser, para todos os jovens ávidos de verdade, objeto de amor." (O uso dos prazeres, p. 211)
Lentamente, no mundo ocidental, a mulher ocuparia o lugar do rapaz como objeto de desejo. As relações (entre o casal) mudariam também. O homem passaria a ser percebido simplesmente como "male gaze", ou seja:
"(...) um 'olhar masculino', a forma como homens por sua obsessão voyeurista procuram manter as mulheres na posição de objetos sexuais que são passivos ao seu olhar." (Camille Paglia, Playboy, October 1991, p. 133)
Camille Paglia, de certa forma, confirma a premissa foucaultiana de que o que era uma relação sofisticada baseada no saber entre um homem e um rapaz tornou-se uma relação óbvia focada apenas nos corpos como objetos sexuais:
"Eu acredito que a homossexualidade masculina é o símbolo máximo da liberdade humana, e é por isso que você tem essa homossexualidade ocorrendo nesses grandes pontos de cultura, como a Atenas clássica e a Florença." (Playboy, October 1991, p. 171)
Tratar de homossexualidade ou heterossexualidade significa debater sobre estilos de vida e não refletir sobre o tipo de relação sexual em si. O ser humano é dinâmico, está em constante mudança. O seu desejo, no plano individual, varia bastante conforme a idade e os contextos sociais em que vive. Não existe algo pré-determinado. O sexo em si é um instinto, nada mais do que isso. Instinto realizado por qualquer animal.
O que interessa é refletir sobre os significados do sexo para os seres civilizados. Para que isso aconteça, claro, é necessário não ter medo da própria sexualidade e nem ficar preso a dogmas inventados por aqueles que querem te usar (não necessariamente como objeto sexual).
A ARTE DE SER REJEITADO
1. olhe no espelho.
2. confira o seu peso na balança.
3. a roupa muita apertada não serve mais.
4. os velhos amigos avisam que não podem sair com você essa noite.
5. liga para as exs e descobre que casaram.
6. ao sair, sente-se ignorado em todos os lugares.
7. para quem sonhava em um dia ser invisível, finalmente chegou o grande momento.
SOLTEIRAS²³
Sábado. Noite. As pessoas saem. Algumas por opção, outras por obrigação (sim, diversão, para elas, seria mais uma forma de confirmar a sua suposta normalidade). Quem fica em casa? Casais. Pessoas com mais de 40 anos. Obviedades.
Um grupo chama a atenção: as meninas que eram musas, modelos, entre os 15 e 21 anos. Elas eram adoradas. Todos olhavam. Elas eram desejadas pelos homens e, claro, invejadas pelas mulheres. Tudo, para elas, parecia perfeito. Namoravam. Estudavam em faculdades. Festas. Praias no verão.
E depois? Formadas, trabalhando, carro próprio. Seria a segunda parte do sonho? Não.
Estavam mais velhas. Aquele namoro de anos havia terminado. Muitas ainda moravam com os pais. Algumas tiveram filhos, não casaram e também moravam com os pais. Deixaram de ser as musas. Foram trocadas por garotas mais novas.
Deixaram de ser o foco principal dos homens. Solteiras - após anos de uma relação monogâmica - não conseguem mais arrumar um namorado. No máximo, na noite, conseguem ficar com um rapaz que no dia seguinte estará com outra mulher. Precisam, nesta fase, pagar as próprias contas.
Começa aqui, para algumas, um ciclo "perigoso". Diante da realidade, param de sair em plena noite de Sábado. Ficam em casa e a sua companhia preferida é a geladeira. Engordam. Muito. Não lembram mais aquele corpo perfeito de adolescente.
A autoestima desaparece quase completamente. Se sentem feias. Se saem, são rejeitadas. Se ficam em casa, as coisas pioram.
Comer, beber (sozinha), ver televisão e navegar na internet não são exatamente formas eficientes de conseguir um corpo desejável.
Uma saída seria chamar as amigas que estariam na mesma situação - solteiras e rejeitadas. Claro que, oficialmente, isso seria uma "opção" na medida em que ficar com as amigas seria melhor do que ficar num "longo e tedioso namoro". A opção pelo grupo, na prática, confirma a fragilidade da pessoa. Os adolescentes precisam de grupo. Agora, como diria John Lennon, seria razoável permanecer assim na vida adulta? Ou, pior, aquela pergunta na música da Legião Urbana: "o que você vai ser quando você crescer?"
Ser adulto é um saco. A vida não é melhor para os casados. Aliás, um lado - o solteiro - possui a imagem que o ideal seria ser casado e o outro lado acredita na imagem de que a felicidade só existiria no mundo dos solteiros. Imagens. Ilusões. São desculpas utilizadas, na verdade, para justificar um cotidiano que não faz sentido. O foco no estilo de vida do outro serve para desviar o foco de si mesmo. Trata-se da velha fuga de si, ou seja, da fuga da vida.
INVISÍVEL
Coloquei uma frase hoje - 07/02/2013 - no Facebook: "existo, atualmente, só nas noites, nas sombras ... quase invisível ... "
Posteriormente, no perfil da Lorena Ferreira, encontrei um artigo interessante sobre uma pesquisa de mestrado que defendia um conceito de invisibilidade pública:
"uma percepção humana totalmente prejudicada e condicionada à divisão social do trabalho, onde enxerga-se somente a função e não a pessoa."*
A tese é verdadeira, claro. Contudo, vejo uma outra perspectiva diante de tal afirmação.
Trabalhei por muitos anos em dois centros universitários. Estou, desde 2008, no que chamo de "sabático". Em outras palavras, não trabalho mais, não estou associado a empresa alguma. Não apareço "oficialmente" na divisão social do trabalho. No entanto, tenho duas teses aprovadas, publiquei livros e leio sobre diversos temas. O que eu fiz, em 2008, foi uma opção.
Entretanto, as pessoas, em sua maioria, não conseguem entender como eu vivo sem estar ligado a alguma instituição ou sem ter compromissos com locais e horários definidos.
A primeira questão que surge é quanto ao dinheiro. As pessoas parecem acreditar que realmente trabalham em excesso para sobreviver, o que não é verdade. O excesso está relacionado ao carro novo, a televisão de tela fina ou, mais precisamente, a imagem que elas passam aos vizinhos, familiares e amigos. Elas compram coisas que não precisam para impressionar os outros. Trata-se dos jogos da ideologia e da alienação, ambos associados à divisão social do trabalho.
Em segundo lugar, parece que a minha situação incomoda certas pessoas no que diz respeito ao ócio. Como você consegue viver sem ter um objetivo, um plano? Ou seja, como alguém poderia viver sem "focar" no futuro? Essa é outra velha estratégia de dominação. É preciso sofrer muito no presente - trabalhar em excesso, por exemplo - para encontrar uma recompensa num lugar que não existe - o futuro. É uma boa forma de não pensar em si mesmo e nem nas suas reais condições de existência.
Existem outras questões, mas essas são as duas perguntas que mais ouço. Evito falar muito sobre o tema pois percebo que a maioria está mais incomodada do que interessada em saber sobre a complexidade da situação.
Voltando ao trabalho de mestrado citado no início, existe uma diferença entre ser tratado como "invisível" e escolher, algumas vezes, ficar "invisível".
Mesmo não estando empregado, eu tenho uma identidade na divisão social do trabalho: eu sou professor com doutorado pela PUC de São Paulo. Essa identidade "avisa" aos outros que a minha escolha pode ter sido feita por qualquer motivo exceto ingenuidade.
Em suma, fico "invisível" quando me interessa e quando quero "aparecer" as pessoas ficam diante de um ser humano complexo, que pensa, que percebe além da aparência.
Essa "visibilidade" repentina causa ironicamente medo em certas pessoas como se elas imaginassem que eu percebesse, na hora, o que estaria por trás das máscaras e jogos que elas fazem para sustentar uma ilusão. Sim, talvez aqui elas tenham razão.
* http://www.ip.usp.br/imprensa/midia/2008/orq_cuiaba_7-12-2008.htm
CORDIAL"Só porque eu sou gentil, generoso, cordial e pronto para ver o lado bom das pessoas, isso não faz de mim um indivíduo subserviente e sem autoestima."
"Just because I am gentle, kind, generous, friendly and ready to see the good in people does not make me a passive, subservient drone with no self esteem." (katspencer11)
PLANET HEMP
. não culpe o outro pela sua frustração...
. não olhe para o outro como se ele fosse "o rejeitado", afinal...
. toda pessoa é rejeitada ao nascer... é rejeitada pela própria vida que te deixa de presente a única certeza da sua insignificante existência: a morte...
. "o que fazer?" diria Lênin no seu velho livro como se ele soubesse o que estava falando...
. fazer é viver...fazer é arriscar...fazer é sair da sua ilusória "área de conforto"...
. como diria aquela música antiga do Planet Hemp: "o que você precisa para sair daí?"
CONSIDERAÇÕES ÓBVIAS SOBRE CASAS NOTURNAS
√ Diante de qualquer problema, o funcionário costuma dizer "é assim e quem manda é o dono".
√ Então... Imagino que o dono de um bar ou boite deveria saber que o funcionário mais importante da sua casa seria justamente o primeiro que teria contato com o cliente, na entrada, na portaria.
♥ Algo como "boa noite"... educação, bom humor, cordialidade... essas coisas fazem muita diferença e, de certa forma, "convida" mesmo o cliente a entrar no ambiente.
† Portanto, não entendo lugares que colocam (em suas portarias) seguranças terceirizados, mal humorados... com aquela cara fechada como que dizendo que odeia o seu trabalho e o lugar onde trabalha...
† Trata-se, normalmente, de um lugar que "se acha" acima de todos e que ali estariam fazendo um grande favor em deixar algumas pessoas entrarem e consumirem o que poderia existir de melhor no nosso planeta. Existem algumas casas noturnas assim em Uberlândia. Chega a ser risível.
FASE
Uma amiga me disse no último fim de semana: "olha, não é porque você não tem compromisso que todo mundo vive assim..."
Ela está certa.
As pessoas, no geral, correm bastante [para onde mesmo?], atrasadas, com muitos compromissos em nome de planos que se realizarão no .f.u.t.u.r.o.
Ou seja, elas perdem a vida no .a.q.u.i. e .a.g.o.r.a. [o que acontece, de fato, no presente] em nome de algo que .n.ã.o. .e.x.i.s.t.e. [o futuro].
Pode ser [uma fuga] interessante. Mas já passei da fase.
RESPOSTA DIPLOMÁTICA
...ontem outro professor [que eu não via, no mínimo, desde 2005] veio me perguntar como eu sobrevivia sem dar aulas...
...não explico mais...ainda mais para professor de faculdade que deveria, teoricamente, ser mais esperto...rs...
...deu vontade de responder: "prostituição - não desperdiçaria esse corpo hehehe - ou... tráfico de drogas"...
...mas, pensei, vai que o sujeito não compreende a brincadeira...
...então, como sempre, fui educado e dei qualquer resposta diplomática [que não significa coisa alguma mas a pessoa tem a sensação que a sua pergunta foi respondida]...
CASTELO DE CARTAS
Você foi uma pessoa interessante até chegar na faculdade...
Aprendi muito com você...
Depois você "parou" no que imaginou que seria o "auge"...
Não percebeu que não existe o "auge" na vida...
A vida não acontece numa "linha evolutiva"...
É engraçado como que quando as pessoas estão naquilo que chamam de "auge" desconsideram as velhas amizades e acreditam [investem] nas relações equivocadas...
Algumas pessoas precisam de décadas para compreender isso...
A "conta" chega e o preço é emocionalmente [bastante] alto para quem se recusou a lidar com a realidade e preferiu a ilusão...
Não sinto pena. Não sinto satisfação. Pior. Não sinto coisa alguma.
VIVER
...algumas pessoas da minha idade afirmam que eu "chutei o balde" ou desisti da vida...porque vou em boites, bares, ouço heavy metal, ando de skate...enfim, faço o que eu quero...
...essas mesmas pessoas passam o fds trancadas em casa, vendo TV, tomando seus remédios controlados e engordando numa rapidez que causaria inveja a um filhote de elefante...
...e eu que desisti de viver??! ok ok...
O PREÇO DA ILUSÃO
. você esconde atrás da ilusão...
. você foge dos seus verdadeiros traumas como o diabo foge da cruz...
. isso tem um preço...
. um dia, porém, eles, os traumas, serão revelados (para você)...
. neste momento, você encontrará as suas verdadeiras companhias: loucura, alzeimer, morte...
. todo o processo será lento, muito lento...
. é o tal preço...
. a velha culpa que sempre criou uma mal estar na sua noite reinará absoluta...
. o seu sofrimento parecerá eterno...
. diante do que você fez, isso seria o mínimo que poderia acontecer...
CRISE DE IDENTIDADE
"Uma menina sabe quando ela se torna uma mulher quando fica menstruada." (Camille Plagia)
O problema vem depois de alguns anos, quando ela tem uma crise de identidade. Ela sabe disto quando um homem heterossexual não quer fazer sexo com ela. Ele se torna seu amigo, só isso. Ela sente como se ela não fosse mais atraente do ponto de vista sexual.
Todo homem heterossexual é obsessivo com sexo. Ele é um "voyeur" e ele quer fazer amor com toda garota do mundo.
A mulher precisa se sentir sexualmente desejada. Se isso não acontece, significa crise. Ela se sente feia ou gorda. Ela acha que perdeu o seu lugar no mundo.
Normalmente isso acontece quando ela tem 25 anos de idade ou mais. Ela não se casou e o seu trabalho é a coisa mais importante em sua vida. Ela tem seus amigos - a maioria das mulheres. Mas alguma coisa está faltando.
A idade não é a melhor amiga de uma mulher. Ela sabe disto em sua primeira crise de identidade. A partir daí, a tendência é que as coisas piorem...
PSICOPATA
Um agente do FBI disse que ninguém nasce psicopata. Os traumas sofridos na infância deveriam o perfil do indivíduo. Trata-se de uma perspectiva freudiana. Entretanto, as afirmações do agente são feitas a partir de várias experiências nos Estados Unidos.
Como colocar um psicopata na prisão?
Primeiro, é necessário admitir que o psicopata é um pessoa inteligente. Faz planos. Nada acontece ao acaso.
Segundo, o foco do psicopata, a partir do seu passado, é a repetição de uma fantasia. Existiria um "gatilho" que detonaria todo o processo da fantasia. Ela funcionaria como "um CD em seu cérebro". Entretanto, a fantasia nunca seria completa. Por isso é necessário a repetição. Isso significa que o psicopata estará sempre caçando novas vítimas.
Portanto, em terceiro lugar, seria importante admitir que nunca seria possível controlar a mente de um psicopata.
A teoria é razoável mas ela é feita por um policial que quer respostas práticas. As relações humanas são complexas. Não seria possível definir tudo a partir de uma teoria de causa e efeito.
Contudo, pensar como o agente do FBI seria admitir que todo machista teria uma perspectiva de um psicopata: a infância, a fantasia, a repetição e a busca por novas vítimas. Nada mal. INSIGNIFICÂNCIA Calvin diz num quadrinho: "a realidade continua arruinando a minha vida".
Eu mudaria uma palavra "a emoção continua arruinando a minha vida."
Tal "monstro" é sem controle, surge de dentro, como um dragão, cuspindo fogo, gerando calafrios, dores de cabeça, ansiedades, entre outras coisas.
Heidegger dizia que com a angústia poderíamos ver efetivamente a realidade. Trata-se de um preço alto demais.
Entretanto, quando o assunto é sentimento, qualquer ser humano torna-se um refém.
A única vantagem, talvez, é que nesse momento ele se dá conta de sua insignificância.
A VELHA FORTALEZA
A pessoa tem 30 anos.
Está formada. Boa universidade.
Possui estabilidade no emprego.
Sempre viaja nas férias e nos feriados prolongados.
O roteiro, nos fins de semana, são bares... O objetivo: diversão e diferentes mulheres / homens. Não namora.
Não quer uma relação estável.
Possui o seu próprio carro.
Frequenta motéis. Mora com os pais.
O seu verdadeiro espaço é o seu quarto...
Aquele, que ao longo dos anos, foi pintado algumas vezes, os "posters" mudaram de acordo com a idade...
Entretanto, é o mesmo quarto. 30 anos depois.
Representa a velha fortaleza da criança que tinha medo do mundo lá fora.
A criança ainda permanece no quarto. Talvez nunca cresça.
ALIENAÇÃO OU CONSCIÊNCIA NA SEDUÇÃO
As revistas de nudez nunca atraíram os olhos femininos. Tanto em casos como a Playboy (mulheres nuas) ou a Playgirl (homens nus) o público é o mesmo: homens (heterossexuais ou homossexuais).
De fato, a perspectiva feminina é diferente do olhar masculino. A fêmea precisa ser admirada. O macho gosta de ver, seduzir e caçar.
O homem heterossexual é, antes de tudo, um "voyeur". A mulher possui o poder da atração. Ela conhece os truques, as dissimulações e os acessórios.*
A mulher, normalmente, sabe utilizar essa ambiguidade a seu favor. Quando isso acontece, torna-se, nas palavras de Nelson Rodrigues,
"uma potência fantástica, devido à atração sexual. Isso lhe dá o instrumento de domínio, todo sujeito que tem grande atração por uma mulher está liquidado. Ela exerce o poder e ele a submissão."**
Mas... será que toda mulher tem consciência do seu poder de sedução? O corpo humano é importante e pode provocar várias reações.
"A estética está no coração da natureza humana. Quando se fala em estética, é necessário falar da estética do corpo humano."***
Para Camille Paglia, nem sempre as mulheres estão conscientes do que provocam nos outros, especialmente nos homens:
"Vejo mulheres fazendo 'cooper' na rua com os seus seios para cima e para baixo e eu acho que elas estão loucas. Elas realmente não veem que são um alvo de provocação ao correr."³*
A falta dessa consciência pode criar problemas para as mulheres, entre eles, um dos mais graves seria o estupro. Trata-se de um tema bastante polêmico. Por um lado, "as mulheres, em sua maioria, precisam ser seduzidas e consideradas atraentes."³* Por outro lado, não se pode afirmar que a própria mulher seria a responsável por um estupro. A alienação, nesse caso, pode causar consequências imprevisíveis:
"uma garota toma 12 tequilas numa festa de faculdade e um rapaz a chama para subir para o seu quarto e, então, ela fica surpresa quando ele a ataca?"³*
Esta relação de poder entre duas pessoas pode ser associada ainda em outro contexto. Na Grécia Antiga, a relação amorosa considerada "nobre" era entre um homem e um rapaz:
"O amor pelos rapazes não pode ser moralmente honrado, a não ser que ele comporte (...) os elementos que constituem os fundamentos de uma transformação desse amor num vínculo definitivo e socialmente preciosos, o de 'philia'."¨*
A sedução no que diz respeito aos rapazes poderia ser interpretada atualmente como casos de pedofilia:
"Eu endosso, ou defendo, o 'garoto-amante' em meu livro. Isto era racional e honroso na Grécia Antiga, no auge da civilização. Pornografia infantil? Metade da carreira de Caravaggio não é nada além de pornografia infantil, ou seja, meninos expondo os órgãos genitais. Eu posso entender o por que, na atualidade, da proibição de filmes de crianças sendo expostas à pornografia, mas eu defendo as pinturas que apresentam pornografia com crianças ou o sexo nos quadrinhos (que eu realmente gosto). Existe um incrível mercado para os 'sex comics'. Eu acredito que eles são mais criativos do que os orgasmos simulados das mulheres."³*
A mulher e o "garoto-amante" aparecem como objetos de sedução. Entretanto, trata-se de uma relação mais complexa. Primeiro, o que foi dito no caso da mulher aqui refere-se à atualidade e o que foi citado do "garoto-amante" está associado ao período da Grécia Antiga. Segundo, colocar mulher e "garoto-amante" como seres somente "passivos" é polêmico, sobretudo no caso da mulher, adulta, que, muitas vezes, uso o poder de seu corpo como forma de dominação. Dizer que as alienadas são vítimas é desconsiderar que "cada um deveria ser pessoalmente responsável pelo que acontece em sua vida."¨²*
Em suma, a relação entre um adulto e uma criança é uma relação desigual. No entanto, a relação entre dois adultos (homem e mulher, homem e homem ou mulher e mulher) é diferente, ou seja, a alienação não pode servir de justificativa para o fracasso numa relação de poder. Todos nós, conscientes ou alienados, somos responsáveis por nossas escolhas e pela maneira que nos apresentamos aos outros, com os olhares, gestos, sorrisos e, claro, a maneira como nos vestimos.
* Michel Foucault, O Cuidado de Si, p. 220.
** Nelson Rodrigues, Playboy, Novembro de 1979.
*** Camille Paglia, Playboy, October, p. 133.
³* Camille Paglia, Playboy, October, p. 170.
¨* Michel Foucault, O Uso dos Prazeres, p. 198.
¨²* Camille Paglia, Playboy, October, p. 171.
Prefácio
Como foi 2013? Parece que não foi um bom ano.
Para mim, pelo menos, uma coisa ficou clara: o número menor de textos que escrevi para os blogs.
A escolha dos temas esteve associada ao cotidiano (como sempre).
A qualidade do que escrevi parece não ter sido alterada, levando em consideração que tratou-se da redação de textos opinativos.
PODER E CRISE
As pessoas percebem nos outros (nunca nelas mesmas) o óbvio: todos envelhecem... e rápido. Poucos admitem. Raros assumem realmente.
Para garantir o “visual da temporada” vale qualquer coisa para homens e mulheres: botox, anabolizantes, cirurgias plásticas... Existem inúmeros truques para disfarçar a aparência tanto no mundo real como na “realidade virtual” (photoshop, etc). Um exemplo claro desta problemática seria o Mick Jagger,o vocalista dos Rolling Stones.
O envelhecimento, por mais que falem em igualdade, ocorre de maneira diferente para o homem e a mulher. Desde a adolescência, o poder feminino vem da aparência. Neste período, a garota tende a acreditar que aquela sedução acontecerá para sempre. Não vai.
Muitas querem só “curtir” desde cedo e se recusam a “namorar sério”. Outras acreditam que seria possível “curtir” e “namorar sério” ao mesmo tempo. De fato, quando “engatam” um namoro, esquecem as amigas, “se fecham” nos relacionamentos e o que antes era rir, dançar, beber... torna-se rapidamente em programas de rodízios em churrascarias e pizzarias em pleno Sábado. No Domingo vem o pior: almoçar na casa da sogra, dormir durante aquela tarde quente e ir ao cinema quando a noite chega e... pronto, o final de semana acabou.
Piora, claro. Algumas namoram durante longos anos no que representaria o auge de sua juventude, beleza e sedução – entre os 15 e os 25 anos. Depois de tanto tempo, o tédio piora, o casamento não chega e o namoro acaba. Assim, quando procuram as amigas e “o tempo perdido”, é óbvio, percebem que muita coisa mudou. A tal dignidade a impede de reatar o namoro e quanto mais o tempo passa o “ex” vira somente um fantasma que torna-se motivo das lamentações e choros nas madrugadas.
Essas garotas querem algo que não existe mais. Sentem saudades do tempo em que quando passavam, em pleno verão, numa praia ou mesmo piscina, transformavam-se automaticamente no centro das atenções. Percebem que foram substituídas. Os homens (de todas as idades) não conseguem desviar o olhar das... “outras”.
As crises começam e não param mais. Insônia. Neurose com a balança (a geladeira é a grande “amiga da madrugada”). Rejeição. Frustração.
E com os homens? Acontece algo parecido. Entretanto, esse processo começa só algumas décadas depois.
As mulheres, sem dúvida, amadurecem antes. Os homens, aparentemente, para o imaginário social, envelhecem posteriormente.
É justo? Não sei. As certezas tanto para um como para o outro sexo seriam as crises e o ponto final, o “descanso eterno”, a velha senhora – que muitos dizem evitar mas, no fundo, a desejam - a morte.
MERCADO DE TRABALHO: OBVIEDADES E "PÉROLAS"
Os supostos “mandamentos” – que circulam pela internet - de Bill Gates (para os estudantes) dariam arrepios ao Domenico de Masi e a sua perspectiva de um futuro mais feliz e com menos trabalho para as pessoas.
Apesar de ser "a cara do Bill Gates", tais palavras, de fato, são atribuídas "ao autor Charles J Sykes."*
Entre as obviedades e as “pérolas”, encontram-se:
“A vida não é fácil.
O mundo não está preocupado com a sua autoestima.
(...) Se você acha seu professor rude, espere até ter um chefe. Ele não terá pena de você.
(...) Se você fracassar, não é culpa de seus pais.
(...) Sua escola pode ter eliminado a distinção entre vencedores e perdedores, mas a vida não é assim.
Em algumas escolas você não repete mais de ano e tem quantas chances precisar até acertar.
Isto não se parece com absolutamente NADA na vida real.
(...) é pouco provável que outros empregados o ajudem a cumprir suas tarefas no fim de cada período.
(...) A vida não acontece como na televisão. Na vida real, as pessoas têm que deixar o barzinho e ir trabalhar.”
Esses “mandamentos” poderiam fazer parte do discurso de qualquer gerente, numa reunião particular com os seus funcionários (em público, ao contrário, o tal gerente falaria em “inteligência emocional”).
Os tais “mandamentos” não representam algo novo. O que surpreende é ler “normas” assim no século XXI.
Claro que essas ideias têm a ver com a hegemonia da ideologia neoliberal. Entretanto, elas parecem ser de outro contexto, quando ainda não havia as teorias de Freud, Paul Lafargue, Viviane Forrester, Domenico de Masi e Corinner Maier.
(*) http://www.creativeteachingsite.com/gates.htm
MULHERES PROBLEMÁTICAS
Um “problema” seria um “erro”, algo que precisaria de um conserto. “Problemático” seria algo complicado, que pressupõe debates, e não seria necessariamente algo totalmente equivocado. [Fiz essa distinção agora em função do que pretendo escrever.]
Partindo desta distinção bastante simples, pode ser dito que os homens, no geral, representam um “problema” e algumas mulheres seriam “problemáticas.
Não é necessariamente a idade que define se uma mulher seria “problemática” ou não. Entretanto, trata-se de um critério que não pode ser (de todo) descartado.
Essas mulheres precisam de autoafirmação. Necessitam provar que são adultas. As solteiras sempre procuram ter respostas prontas (e agressivas) para explicar as suas frustrações:
. não conseguiram sair da casa dos pais;
. não tiveram filhos;
. não conseguem arrumar um namorado;
. não estão satisfeitas com a profissão, entre outras características.
Elas não são difíceis de serem identificadas:
. costumam ter mais de 25 anos;
. fazem uma segunda graduação;
. são autoritárias;
. o outro, na visão delas, sempre seria o culpado;
. acham que o universo conspira contra elas;
. fingem que não têm inveja das amigas casadas, com filhos e que obtiveram sucesso na profissão;
. tentam (desesperadamente) parecer felizes, entre outras características.
Os homens são piores, diriam algumas (ou todas). É verdade. São “o” problema e por mais perfeitos que pareçam (elas querem acreditar nisto), as mulheres ficam com a sensação de que, numa hora qualquer, “pisarão na bola.” Estão certas. Pisarão mesmo. Talvez seja a “natureza masculina”... Entretanto, esse discurso serve mais como justifica para os erros e para conseguir o perdão das mulheres.
VIDA: LÓGICA E SENTIDO
O que você procura? Dizem que a vida seria uma estrutura de escolhas.
No filme “Trainspotting” (1996), o personagem principal ironiza todo o processo:
“Escolha a vida. Escolha um emprego. Escolha uma carreira. Escolha uma família. Escolha uma imensa televisão (...). Escolha os seus amigos. (...) Eu prefiro não escolher a vida.”
Em outro filme, “The Dark Knight” (2008), Alfred diz:
“Alguns homens não estão procurando algo lógico, como o dinheiro. Eles não podem ser comprados, intimidados. Alguns homens só querem ver o mundo pegar fogo.”
Kafka ironiza o cotidiano do ser humano, por exemplo, em “Metamorfose”. Seríamos insetos. Descartáveis. Mais do que isso: seríamos insetos que os outros, inclusive os familiares (que sempre procuramos apoiar e ajudar), desejam descartar.
Tudo isso lembra Nietzsche, no livro “Humano, Demasiado Humano”, quando afirma que os “indivíduos fracos deveriam ser descartados como insetos desagradáveis.”
Insensibilidade. Talvez. Irreal. Não. Basta olhar ao seu redor. Basta olhar no espelho (da sua vida). Com o outro, claro, não seria diferente. Jogos de Imagens. Jogos de Espelhos... Distorcidos. Repetidos. Envelhecidos.
Se a vida não faz sentido, o que fazer aqui? Alfred responde: “Some men just want to watch the world burn.”
Alguns homens não são somente “observadores sociais entediados”. Eles gostam de ações que, se possível, despertem o apocalipse que daria alguma lógica a uma existência sem sentido.
EXCLUSÕES
Existe um mito comum que associa algumas instituições ao processo de cura do indivíduo.
A pessoa, na teoria, vai ao hospital quando passa mal, sofre algum ferimento, enfim, está doente. A estrutura física do hospital seria uma forma de protegê-la dos outros riscos do mundo externo. Entretanto, isso não é verdade. Ocorre o contrário: o espaço fechado do hospital representa uma forma de defender e de separar os indivíduos saudáveis da sociedade dos doentes daquele lugar. Não é aceito, mas o hospital é um lugar que também produz doença. Trata-se do tradicional caminho antes da morte.
É dito que a prisão seria um lugar para recuperar o preso para o convívio na sociedade. Na prática, porém, lá a pessoa aprende novas modalidades de crimes e torna-se mais perigosa diante dos outros. O objetivo de deixá-la trancada numa prisão é também proteger as pessoas da sociedade, que, de fato, não se interessam pelo que acontece “lá dentro” (desde que os criminosos continuem presos).
Antes havia o hospício e a clínica. O hospício, atualmente, é visto com várias restrições em muitos países. Não importa. A intenção nos dois casos é excluir indivíduos considerados “diferentes” (mesmo que eles não sejam criminosos) do convívio social. Trancar alguém num hospício ou numa clínica seria como colocar esse alguém (normalmente é um parente) embaixo do tapete para não causar constrangimentos às visitas ou aos vizinhos. Seria como passar a borracha em alguém para que a tal família mantivesse a aparência de normalidade.
Objetivos similares podem ser associados aos asilos e às instituições de recuperação de menores de 18 anos.
Em regimes democráticos, estas instituições servem para dar um caráter “civilizatório” à crueldade humana.
Em regimes totalitários, como o nazismo, nem isso era necessário: bastava colocar os excluídos em campos de concentração, torturá-los, utilizá-los como “objetos de experiência” ou simplesmente assassiná-los. Neste caso, não havia muito debate não só pela repressão dos nazistas mas também e principalmente por causa da superioridade da raça ariana. Ou seja, o que era “descartado”, enfim, não era considerado “humano”.
Freud dizia, na época, que “se antes ele seria queimado vivo, agora [no nazismo] eles se contentavam em queimar os [seus] livros.”
O “antes” que Freud se referia, claro, era o período da Idade Média, quando a Igreja Católica tinha o monopólio do poder ideológico e condenava a morrer (nas fogueiras) as pessoas (sobretudo as mulheres) que discordavam dos seus dogmas.
O Brasil é considerado um país “jovem”. Contudo, em seu período republicano, as pessoas sofreram muito sob duas ditaduras: a do Estado Novo de Getúlio Vargas e a Ditadura Militar. Apesar de não existir uma ideologia tão sofisticada como o nazismo (por isso essas ditaduras eram classificadas como regimes autoritários), os instrumentos de repressão física (prisões ilegais e torturas, por exemplo) funcionavam “normalmente”. Em suma, caberia ao Estado "limpar" a sociedade e deixar somente um padrão de indivíduo: aquele que não questiona, o que faz o que todo mundo faz e acredita no que todos acreditam. Existe uma música do Pink Floyd que trata deste tipo de pessoa: "Comfortably Numb".
PAIS E FILHOS
O indivíduo nasce e o primeiro contato que ele tem, obviamente, é com a família. Ela é o seu núcleo básico para a sobrevivência. Não foi por acaso que Freud deu tanta importância para a figura do pai.
O clã representaria a reunião de indivíduos ligados pelo parentesco, por um ancestral comum.
A tribo seria a reunião de várias famílias e uma cidade-estado significaria a reunião das tribos (houve, como exemplos, Atenas e Esparta).
A realidade atual, com a delimitação de um território associado a uma nação e a um Estado, apareceu lentamente após a Idade Média (quando os indivíduos se organizavam em feudos autônomos e havia a unificação ideológica feita pelo cristianismo, representado pelo poder da Igreja Católica).
Esta síntese (bem simples) serve para mostrar que a realidade de hoje (com suas leis instituições, entre outras coisas) não existiu desde sempre. Houve outras formas de organização de indivíduos durante a história da humanidade. Serve ainda para mostrar um “olhar” sobre o passado, que é o ponto de vista da Europa Ocidental. Serve também para ressaltar a relevância da família em todo o processo.
Os pais exercem um grande poder na família. Não poderia ser diferente. Este poder não vem só de uma forma autoritária. As ideias e sobretudo os atos dos pais influenciam bastante a formação dos filhos. Os pais, de certa forma, influenciarão os comportamentos dos filhos na vida adulta.
Os filhos tornam-se uma representação distorcida e complexa das atitudes dos pais. O que acontece hoje na sociedade, na verdade, foi “plantado” e produzido, anteriormente, no período da infância.
Em outras palavras, os pais não podem simplesmente reclamar dos filhos ou de uma sociedade violenta e sem valores, afinal, os seus atos (20 anos atrás) contribuíram para isso.
Os pais, ironicamente, sofrem as consequências do que “plantaram” (de uma maneira consciente ou não). Não são vítimas. Não adianta culpar a ideologia “geral” do Estado que existe para defender os interesses de uma elite. Não resolve falar em “destino” nem em religião. De fato, os pais podem querer ser qualquer coisa exceto vítimas deste processo.
RELIGIÃO E PREVISIBILIDADE
Algo inesperado aconteceu em 2013., sendo gravado a partir de vários carros:
“No amanhecer de 15 de fevereiro de 2013., uma imensa bola de fogo --um meteoro-- assustou os moradores de Tcheliabinsk, na Rússia. (...) a explosão do asteroide ao adentrar a atmosfera teve a força de 500 mil toneladas de TNT. (...) [Foi afetada] uma área com uma população superior a 1 milhão de pessoas.” *
Apesar de toda a tecnologia que supostamente garantiria a segurança do planeta, o que chamou a atenção foi a imprevisibilidade do acontecimento. Em outras palavras, não existe, de fato, estabilidade ou segurança tanto no âmbito individual como do ponto de vista coletivo.
A indefinição quanto ao futuro leva muitos a buscar abrigo numa religião. Ela promete aquilo que a ciência não pode garantir.
A religião aparece como uma verdade apresentada fora da humanidade, logo as suas leis não podem ser questionadas. Essas leis determinam as ações das pessoas. Elas se subordinam às essas leis na medida em que “descobrem” qual caminho deveriam seguir e, como as leis são dogmas (não podem, teoricamente, mudar), as consequências dos atos (bons ou ruins) seriam “previsíveis”.
As pessoas, neste processo, não decidem sobre as suas vidas, tornam-se quase robôs pré-programados a agir desta ou daquela maneira. As suas escolhas não são escolhas porque ocorrem dentro do universo da religião e dos seus dogmas. A liberdade é limitada pela religião, ou seja, ela não existe. Assim, como “não há mais lugar algum para a justiça ou a responsabilidade (seja ela jurídica, política ou ética). **
Optar por uma religião significa abrir mão de si em nome de uma verdade determinada pelo outro. A fé é o principal instrumento no conhecimento teológico. Neste caso, como quase tudo na democracia, a opção deve ser respeitada.
(*) Salvador Nogueira. Cientistas desvendam origem de meteoro que explodiu na Rússia. Folha de São Paulo, 07/11/2013..
(**) Jacques Derrida, Filosofia em tempo de terror, p. 144.
"ROLEZINHO"
Existe um novo uso das redes sociais. Trata-se do chamado “rolezinho”, encontro marcado por dezenas de jovens em shopping centers em São Paulo. O ato gera pânico e mesmo saques em lojas, com correrias e prisões.
É irônico na medida em que sempre foi dito que o shopping center seria “a praia do paulistano”. Lembra, claro, os arrastões nas praias do Rio de Janeiro.
Ocorre ainda o reforço da desmistificação do shopping center como um lugar seguro para compras e diversão. Os assaltos e até assassinatos já aconteciam nestes lugares. Agora com os “rolezinhos”, a velha imagem parece estar bastante “manchada”.
Outra questão seria a soma de fatores que podem levar a resultados desastrosos: jovens desempregados, impunidade e o uso inadequado das redes sociais. Tudo isso pode ser associado ainda as ações dos “Black Blocs”.
Em suma, a aplicação das políticas neoliberais no país, ressaltando especificamente a falta de investimento em educação e a ausência de perspectivas para o futuro, associada a popularização da tecnologia (celulares modernos, tablets e Internet) desmascara a ideia de que a espera pública seria um lugar seguro por causa da atuação do Estado.
JUVENTUDE TRANSVIADA EM 2013
As pessoas costumam dizer que os jovens, atualmente, são mais liberais e radicais: Piercing, Tatuagem, bissexualismo, sadomasoquismo, automutilação, entre outras coisas. Eles começam cada vez mais cedo, 12, 13, 15 anos... Bebem muito, claro, alguns gostam de feitiçaria e outros até participam de orgias em cemitérios (como foi noticiado o caso de Curitiba no ano passado).
Muitas pessoas que criticam os jovens são os pais que foram omissos na educação ou foram responsáveis diretamente por tais “desvios”, sobretudo os padrastos que molestaram (até com abusos sexuais) meninas (filhos de outro homem) quando tinham menos de 10 anos. Contavam com as mães (que supostamente precisavam estar casadas) como aliadas.
Os traumas da infância são negados ou “esquecidos” na adolescência. Entretanto, no início da vida adulta, tudo aparece claramente. Para fugir dos traumas, os jovens buscam alternativas nas drogas ou no excesso de bebida ou sexo. Valeria tudo para não pensar no que ocorreu na infância. Isso explicaria muitos casos de prostituição, homossexualismo, bissexualismo, sadomasoquismo e automutilação – que são tão comuns hoje em dia.
Existiram mudanças sociais que propiciaram também este quadro, como os mitos do cinema associados à “juventude transviada” nos anos 1950 (James Dean e Marlon Brando), os movimentos da década de 1960 (pela liberdade sexual e pelo feminismo) e ainda a ideia de “produção independente” tão comum depois dos anos 1980, que defendia a tese de que o homem seria “descartável” e, de certa forma, rompeu com o modelo de família “tradicional”.
Muitos podem discordam, mas a crise de autoridade atual tem a ver com a ausência da “figura paterna” na criação destes jovens. O resultado, além do que já foi citado, veio também na forma do aumento da violência e do egoísmo excessivo. Falta, para muitos jovens, o altruísmo, ou seja, a percepção das relações também sob a visão do outro.
O quadro social hoje é este. A tendência é piorar na medida em que muitos jovens tiveram filhos e não saíram das casas dos pais. Em outras palavras, as pessoas que criaram a situação que se vive atualmente, estão cuidando, na família, da próxima geração, dos netos. Pode ser considerado pessimismo, mas se o resultado foi ruim uma vez, dificilmente dará certo com a outra geração.
A ATENÇÃO DO OUTRO
O homem, dizem, é um animal social. Depende do outro. Mais do que isso, precisa da atenção do outro. Simples assim? Talvez... não...
Como alguém chamaria a atenção do outro?
Bastaria dirigir uma Ferrari vermelha (a cor em si conta muito).
Impressiona também possuir iate, helicóptero e avião.
Poderia ainda morar numa mansão, possuir belas casas na praia e no exterior.
Tornar-se celebridade, aparecer constantemente na mídia, ser fotografado e filmado em todas as festas famosas. Tudo isso seria possível se a pessoa for bastante atraente fisicamente ou ter fama de possuir muito dinheiro.
No caso da mulher, conta parecer jovem, roupas caras, microssaias, decotes, saltos altos e sorrisos fáceis.
No caso do homem, basicamente, bastaria parecer ser rico (com o que foi citado anteriormente).
Chamar a atenção do outro intencionalmente significa manipular, como o trabalho de um mágico, ou seja, com um brilho ou um truque, o olhar do outro é desviado, ele fica vulnerável e torna-se presa fácil para o ataque (uma mulher que deseja casar, utilizando um exemplo antigo).
Existem riscos no ato de chamar a atenção do outro, como infidelidades conjugais, roubos, sequestros, assassinatos, impostos e investigações dos órgãos do governo (sobretudo a Receita Federal). Estupros e cantadas vulgares são riscos do universo feminino.
Poderia ser dito que tudo isso seria “muito barulho por nada” e que, na verdade, chamar a atenção do outro seria somente algo associado aos carentes ou aos indivíduos que desejam ostentar. Será?
CIVILIZADOS E APARÊNCIAS
O civilizado é, por definição, um dissimulado. Começa pela aparência. As mulheres, antigamente, tinham o monopólio desta “arte”. Trata-se daquela “velha” citação do Foucault:
"Engano possível sobre o corpo que os enfeites escondem e que se arrisca a decepcionar quando é descoberto; ele é rapidamente suspeito de imperfeições habilmente mascaradas; teme-se algum defeito repelente; o segredo e as particularidades do corpo feminino são carregados de poderes ambíguos." (Michel Foucault, O Cuidado de Si, p. 220)
Os homens, atualmente, em sua maioria, parecem também querer parecer algo que, de fato, não são. Inventaram até o conceito de “metrossexual”. Isso sem falar no uso de anabolizantes para inchar artificialmente o corpo. Botox? Cirurgias plásticas? Vale tudo para que o homem seja aceito como “atraente” na sociedade.
O que os homens e as mulheres querem esconder com tantas estratégias para “disfarçar” a aparência? Desejam omitir o que são: seres humanos imperfeitos, inseguros, impotentes, carentes, frágeis e solitários.
Hannah Arendt já dizia que o uso da violência era um sinal de impotência (leia em “A Condição Humana”).
O resultado de tanta dissimulação é um jogo de aparências, quando todos fingem que acreditam em todos. O homem finge que os seios da mulher são naturais (e não de silicone) e ela finge que aqueles músculos foram adquiridos naturalmente, com anos de exercícios em academias e com dietas adequadas.
Alguém um pouco sensato perguntaria: como chegamos neste ponto? Karl Marx falaria: todos tornaram-se mercadorias. Se isso for verdade, a aparência e o “makerting pessoal” seriam fundamentais para quem quer ser aceito numa sociedade de consumo.
O que nem sempre é lembrado em relação às mercadorias - no capitalismo – é que elas são descartáveis. As pessoas só são interessantes quando atendem o mercado, caso contrário, são desconsideradas, deixadas de lado, como se fossem invisíveis. Só não são sacrificadas porque “somos civilizados”.
Nós – os civilizados - necessitamos respeitar o outro, mesmo que isso seja o oposto do nosso desejo. Nós negamos nossos instintos naturais. As consequências, como destacava Freud, aparecem com as neuroses, os conflitos internos, os pesadelos e as doenças.
Alguns ainda tratam todo esse processo como uma “evolução” ou um “progresso” da humanidade...
Lulu (04-12-2013)
O relativo sucesso do website Lulu está associado ao vazio de temas na mídia e ao cinismo de alguns machistas que viram a sua privacidade violada e, por isso, desejam indenizações. Não existe novidade na ideia.
Existe um episódio de Two and Haf Men* que trata basicamente deste assunto, quando é criado o charlieharpersucks.com e o personagem principal da série passa a ter problemas nas suas conquistas na medida que os seus truques estavam todos na Internet, revelados pelos depoimentos de suas exs.
Não vi ainda a “vingança” dos homens com o website www.tubbyapp.com. Entretanto, pelos dados iniciais, parece que o nível das avaliações não ficará muito longe de uma conversa de bêbados num madrugada qualquer num “WC Masculino” – daqueles com as paredes pichadas e aquele cheiro “maravilhoso”.
Além da falta de assunto, o que revela este (“impressionante”) debate é a insegurança de cada um diante da opinião do outro, seja ela verdadeira ou não.
Presidentes de vários países, recentemente, reclamaram da espionagem do governo dos Estados Unidos. Se um presidente da República não tem privacidade na sua Internet nem no seu celular, o que dirá o cidadão comum.
Com a tecnologia que existe hoje, não dá para falar sério em segredo - seja no nível das relações dos chefes de Estado seja nas relações entre adolescentes com seus modernos celulares e tablets. Não é só "o rei está nu". Não existe privacidade. A velha diferença entre a esfera pública e a esfera privada desapareceu na realidade atual.
(*)www.youtube.com%2Fwatch%3Fv%3DIUCTqEVSlEw&ei=KaKfUt-aC9SuqwGGrYGYDA&usg=AFQjCNGgfRh8ZBpD3JQtaezoP07QGTG3KA&sig2=GOjFmz9pmXzrV6ytGY_rQw&bvm=bv.57155469,d.aWM
QUEM NECESSITA DE QUEM?
A pessoa NECESSITA de algo e não possui? Essa é a questão central. Neste contexto, ela fica com falta de apetite, irritada, frustrada, não dorme direito, enfim, assumindo ou não, de fato, ela está em crise.
Necessidade é a palavra chave. Quem necessita de quem?
A pessoa que finge que não necessita do outro, na realidade, exerce o poder. Ela controla, domina e humilha o outro. Trata-se de um jogo, no qual algumas pessoas – que são verdadeiros castelos de cartas – conseguem disfarçar a fragilidade e as outras – as “sinceras” – entregam quase que imediatamente que necessitam do outro.
Quem são essas pessoas “sinceras”? Alguns exemplos:
. a pessoa tem medo da solidão e necessita de amigo(s);
. a pessoa necessita de um emprego – envia currículos, faz entrevistas, cursos, torna-se cada vez mais qualificada – mas é rejeitada e humilhada pelo mercado;
. a pessoa é formada - tem um bom emprego, carro, apartamento próprio – quer casar mas não consegue pretendente pois está com mais de 30 anos;
. a pessoa quer um filho e não encontra um parceiro.
Solução? Basta lembrar que é um jogo de frágeis castelos de cartas. O outro não é melhor nem tem poderes especiais. É, como qualquer um, nas palavras de Nietzsche, “humano, demasiado humano.”
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Une personne à besoin de quelque chose et ne pas avoir ? C'est la question centrale. Dans ce contexte, il n'y a pas d'appétit. Le personne ne dort pas bien. Il y à une crise. La nécessité est le mot clé dans la societé.
Une personne qui prétend pas besoin d'un autre exerce effectivement le pouvoir . Il contrôle , domine et humilie l'autre . Il n'est pas un « superman ». En fait,il est un château de cartes. Mais l’autre est «sincère» (il reconnaît tout de suite qu'il faut une autre personne).
Qui sont ces gens sincères? Types :
. peur de la solitude ;
. quelqu'un a besoin d'un emploi mais est rejeté et humilié par le marché ;
. une femme est formé mais ne peut pas se marier parce que elle a plus de 30 ans ;
. une femme veut un enfant (tomber enceinte), mais elle ne peut pas trouver un homme pour accomplir sa volonté.
Solution ? Rappelez-vous juste que c'est un jeu de maisons fragiles de cartes.
L'autre n'est pas mieux. Oui, les mots de Nietzsche : il est "humain, trop humain ."
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Se você pegar o texto em português e colocar no Tradutor do Google, verá que a tradução sairá um pouco diferente pois « a máquina de tradução » ainda comete mais erros do que os seres humanos... rs...
Com as censuras aos meus textos (nos blogs) em inglês, agora tento escrever algo inédito (ou traduzir o que já escrevi) para o francês.
Apesar de reconhecer que escrever em inglês seria bem mais fácil, de que adiantaria publicar algo que seria censurado logo em seguida?
profelipe.10-12-2013..
DIPLOMADOS DESEMPREGADOS
Escrevi recentemente um texto com o título "O Mundo Acabou".* Não sei se quem leu entendeu o que eu queria dizer. Muitos acham que sou pessimista. Se isso for verdade, pelo menos não sou o único.
Os intelectuais sempre problematizaram a condição humana e raros foram otimistas quanto ao futuro do homem civilizado. Freud, em 1930, escreveu:
"A questão fatídica da humanidade parece-me ser saber se, e até que ponto, o seu desenvolvimento cultural conseguirá dominar a pertubação de sua vida comunal causada pelo instinto humano de agressão e autodestruição." (O mal-estar da civilização, p. 111)
Esse instinto vale tanto na perspectiva individual quanto coletiva, social. O pessimismo de Freud fazia sentido. As pessoas, esclarecidas ou alienadas, cada vez mais são descartadas "pela economia" e não encontram alternativas dignas para viver.
Indivíduos formados em faculdades, que antes se consideravam de classe média - com boa moradia, carros e poder de consumo -, tornaram-se moradores de rua em países como Grécia, Portugal ou Espanha. Na África não é diferente:
“(…) parte de um grupo nacional chamado Diplomados Desempregados. Eles juntaram forças ao protesto de cerca de 160 membros do movimento, que tinham como objetivo ocupar um edifício administrativo do Ministério do Ensino Superior. (…) A taxa de desemprego oficial de Marrocos é de 9,1 por cento a nível nacional, mas é 16 por cento entre os trabalhadores qualificados.” **
Diplomados Desempregados? O problema na África é mais grave pois muitos adotam a autoimolação para chamar a atenção das autoridades. O protesto assume a sua forma mais radical.
De certa forma, Eric Hobsbawm, em 1999, previu o que acontece atualmente no mundo:
"... [a economia] está lançando um número crescente de homens e mulheres numa situação que não podem mais recorrer a regras claras, perspectivas, senso comum: uma situação em que não sabemos mais o que fazer de nossas vidas, tanto no plano individual como no coletivo. (...) não consigo olhar o futuro com muito otimismo." (O novo século, p. 194)
De fato, não é um crise passageira. Trata-se de uma mudança estrutural no capitalismo. A questão não é ser otimista ou pessimista. Basta ler os jornais. A realidade está aí e as pessoas não acreditam mais em projetos coletivos.
Mesmo os alienados percebem que existe algo de errado no ar... Sofrem as consequências do que acontece no mundo mas não compreendem a dor e apelam para a ilusão de que "um dia tudo vai melhorar" ou se apegam aos dogmas de alguma religião.
A crise social agrava a crise individual. Ninguém é intocável. Não existe mais volta e todos estão no mesmo barco.
(*) http://flertar.blog.com/2013./11/07/o-mundo-acabou/
(**) Essa citação foi utilizada em outro texto. BAKRI, Nada. Self-Immolation Is on the Rise in the Arab World. New York Times, 20/01/2012. http://www.nytimes.com/2012/01/21/world/africa/self-immolation-on-the-rise-in-the-arab-world.html?_r=1&smid=tw-nytimes&seid=auto
CULPA E INSÔNIA
A noite chega e o sono não. Os remédios não fazem efeito. Tema batido? Por que, então, você não dorme? A mente, como diriam os filósofos antigos, seria como um "cavalo selvagem"?
A questão fundamental é: você, com a sua idade e a sua experiência de vida, está (hoje, no presente, no aqui e agora) no lugar e na situação que você imaginava quando era mais novo (a)?
Nada de "enganar a si mesmo". O seu projeto de vida deu certo até agora?
A avaliação do tipo custo-benefício na vida (entre os bons e maus momentos) não resolve o incômodo atual. Falta algo.
O "vento virou", diria Corinne Maier, não existe mais segurança nem estabilidade.
Experiência profissional, aposentadorias, empresas sólidas (como as do Eike Batista?), diplomas e carreiras tornaram-se expressões vazias, como se não estivessem conectadas com a prática cotidiana do mundo real.
Encontrar o culpado pode ajudar a compreender o processo atual mas, definitivamente, não resolve o problema.
O mal-estar permanece. A insônia, no contexto atual, talvez seja um dos menores problemas.
"BURNOUT"
Existem características em comum entre a depressão e o “burnout”:
. o sentimento de vazio;
. a falta de motivação;
. o desinteresse pelo que acontece no mundo exterior;
. a falta de preocupação com as pessoas mais próximas, como amigos e familiares;
. a autoestima praticamente desaparece.
As diferenças entre os dois casos são claras também.
Na depressão, o indivíduo carga a culpa e acredita que precisa ser punido. O peso que ele carrega pode levar ao suicídio.
O “burnout” é resultado do excesso de trabalho. Acontece mais com os jovens, que, no início, acreditam que os seus projetos serão realizados e reconhecidos. Alguns são utópicos, imaginam que podem transformar o mundo. São ambiciosos. Trabalham até mais de 60 horas por semana. Existe uma busca obsessiva pelo sucesso.
As consequências destas ações podem levar ao esgotamento físico e mental. Não realizar os seus projetos pode levar a sentimentos como depressão, ansiedade, inveja e raiva. Estes indivíduos são vistos pelos outros como fracassados.
Existe ainda uma diferença entre os que sofrem o processo de “burnout” e o depressivo: muitos colocam a culpa no outro (mercado, empresa, colegas, familiares...). Diante de tal quadro, tornam-se irônicos e o mal humor predomina. O que era idealismo é transformado em ceticismo.
Em suma, trata-se de uma “doença” produzida pelo neoliberalismo.
LEVEZA E DIVERSÃO
Os instintos básicos (alimentação, sono, vida sexual...) devem estar (constantemente) satisfeitos. Se isso não ocorre, acontece uma crise pessoal (esse não é o único tipo de crise, por exemplo, o nazismo foi uma crise coletiva, social).
Existem três formas comuns que um indivíduo utiliza para resolver uma crise pessoal:
Primeiro, troca a realidade pela fantasia. Ou seja, não admite que existe algo errado.
Segundo, preocupa-se com a vida do outro, com os problemas do outro. Trata-se de uma forma de desviar o foco (quanto a si mesmo).
Terceiro, admite a crise mas a culpa seria do outro. Não existe autocrítica.
Fugir da crise é difícil. Existe um incômodo no corpo, na mente. Aparecem sinais. Insônia. Manchas no corpo. Falta de apetite.
A origem da crise está no passado. Aconteceu algum trauma que a pessoa tem medo de passar por aquela situação novamente. Ela tenta apagar o trauma da memória, mas ele permanece no inconsciente.
O trauma “faz aniversário” e isso gera aquela tristeza sem explicação. A morte de um familiar, por exemplo, que aconteceu em 15 de fevereiro de 2001. Apesar do indivíduo ter vivido o luto e, teoricamente, ter superado a dor, quando chega fevereiro, aparece um certo mal estar.
O “aniversário” pode tornar-se, inconscientemente, um padrão. Ou seja, a pessoa acredita que em cada fevereiro acontecerá algo ruim.
Quanto mais traumas, mais “aniversários” e a vida torna-se mais complicada. Só piora a situação o fato de não admitir as frustrações, decepções e traições.
Não assumir o que o indivíduo é, de fato, o seu corpo, os seus desejos, a sua idade... Tudo isso cria um nó (ou vários) na vida da pessoa. Ela, com o tempo, se vê envolvida numa rede múltipla e caótica de problemas, crises, frustrações, decepções, traições (tanto explícitas no corpo e na mente, como ocultas).
Para melhorar, o indivíduo precisa, sinceramente, buscar a (s) causa (s). Fazer o percurso ao contrário: parte do incômodo do presente e caminha em busca de sua origem no passado.
Compreender o processo e saber o que acontece, de fato, no cotidiano, pode tornar a vida mais leve e divertida na medida em que o indivíduo descobre que não precisa ter medo do seu verdadeiro “eu” e nem do seu passado.
EXCESSOS
A noite é definida antes da pessoa sair de casa. O seu estado de espírito será determinante para dizer como será o dia seguinte.
Os excessos – bebidas, drogas, paqueras, brigas, entre outros – serão apenas instrumentos para realizar algo que já estava traçado pela pessoa. Tristeza, frustração e rejeição fazem parte deste processo. Alegria e satisfação também, dependendo do estado de espírito de cada um.
Existem pessoas que bebem ou cometem outros excessos para esquecer os problemas do cotidiano ou ainda algo mais grave, como um trauma na infância. Não resolve. Piora. Elas estarão bem piores no final da noite.
Alguns falam em ressaca moral, mas pode ser mais complicado. No caso de algum trauma, além do mal estar, elas terão que enfrentar, ao dormir, tudo aquilo que queriam esquecer... em pesadelos terríveis que parecem cada vez mais reais.
A tentativa de fugir do inconsciente não funcionou. Ele é implacável e a dor produzida, invisível e solitária, é tão intensa que leva a alguns na escolha de algo até então impensável.
Tudo isso pode tornar-se um ciclo de autodestruição. As fotos produzidas para as redes sociais, com gente bonita e belos sorrisos, parecem não enganar mais, o mesmo acontece com a constante troca de elogios tanto pessoalmente como pela Internet.
O tempo passa e a situação piora. Ficar em casa, vendo televisão e comendo, pode ser pior. Engorda. Piora a já debilitada autoestima. Mais gorda, mais a pessoa quer ficar em casa, quer esconder do outro e de si mesma. Entretanto, o problema, como antes, não está na aparência física. Ele vem de dentro... A emoção não pode ser controlada e os erros – escondidos no inconsciente – insistem em voltar a incomodar, sobretudo em momentos de fragilidade.
Não existe solução. Alguns diriam que o tempo seria a melhor resposta. Talvez. Mas nem ele resolverá o mal estar existencial da condição humana.
OTIMISMO
Algumas pessoas têm medo de pensar. Outras acreditam que ler só ajuda a inventar problemas. Filosofia, Política, História, Sociologia, nesta perspectiva, não seriam úteis.
Trata-se de uma postura (preconceituosa e) equivocada. Toda forma de conhecimento serve para ajudar o ser humano no seu cotidiano. A teoria só faz sentido em função da prática:
“A filosofia existe para que as pessoas possam viver melhor. Sofrer menos. Lidar mais serenamente com as adversidades.” (Essa e as outras citações foram retiradas da Época, 22-01-2007, p. 67-73)
Nesta revista, são utilizadas ideias e citações de vários filósofos da Grécia Antiga no sentido de “serenar a tempestade da alma” (Montaigne) Em outras palavras, qualquer um sente dificuldade em controlar a própria mente, sobretudo naquele momento, que após um longo dia de atividades exercidas, o indivíduo pretende dormir e ter um sono tranquilo. A insônia aparece tanto com questões do dia como também com experiências passadas e preocupações quanto ao futuro.
Os filósofos apresentam algumas sugestões. Demócrito: “Ocupe-se de pouco para ser feliz.” Privilegie o equilíbrio, a calma, a serenidade, a linguagem simples, o silêncio, o riso e a paciência. “O futuro é fonte de desassossego”, portanto, seria necessário viver o “aqui e agora”. Para Sêneca, seria “preciso livrar-se da agitação desregrada, à qual se entrega a maioria dos homens.”
Algumas coisas acontecem independentemente da vontade do indivíduo. Epiteto, assim, afirmava:
“Não se deve pedir que os acontecimentos ocorram como você quer, mas deve-se querê-los como ocorrem: assim sua vida será feliz.”
Sentimentos negativos devem ser evitados. “O homem sábio nunca tem maldade e sempre esquece as injustiças de que é vítima.” (Aristóteles) A maioria vê como problemáticas negativas a morte e o envelhecimento. Fugir de pensar (nestas temáticas) seria um erro. Montaigne: “O remédio do homem vulgar consiste em não pensar na morte. (...) Isso é uma demonstração de cegueira e estupidez.”
No que diz respeito ao envelhecimento, a leitura e a reflexão sobre o passado podem ser aliadas. De acordo com Cícero, “a memória declina se não a cultivamos ou se carecemos de vivacidade de espírito.”
Em resumo, as sugestões do que seria razoável na velhice, na prática, servem para qualquer idade: cultivar a memória, ser “intelectualmente ativo” e não abandonar as atividades físicas. Se não trocar o passado ou o futuro pelo presente, o dia-a -dia, certamente a vida pode ser mais tranquila e prazerosa.
CRISE E CAUSA
Quando uma pessoa entra em crise, muitas vezes, ela procura um culpado. Nem sempre funciona. A grande pergunta neste momento deve ser: qual foi a causa? Alguns não gostam de pensar o próprio passado... mas existe outra alternativa? A origem do mal-estar do presente está no passado, algumas vezes, até na infância.
Experiências desagradáveis produzem recalques, que geram resistências internas em admiti-los. Eles são, assim, retirados da consciência, do lado racional, e escondidos no inconsciente. Certamente não seria possível acreditar que eles simplesmente desapareceriam. Viveu algo... Ficou gravado em sua mente.
A alienação começa quando a pessoa tenta fugir do passado desagradável. Não dá. Aqueles traumas escondidos voltam a perturbar no presente: primeiro, com processos como insônia, falta de apetite, desinteresse sexual e marcas no corpo; depois, pode ficar sério pois os riscos são: ataque cardíaco, AVC, loucura ou suicídio.
Para evitar tais situações, é necessário admitir a crise. É importante parar de se enganar e identificar a origem dela. Problematizar pode não trazer uma resposta imediata, mas saber a causa do problema representa um avanço na história do indivíduo. Ele começa a ficar mais a vontade com o seu passado e isso melhora o presente, o seu cotidiano.
Os pesadelos não param. Quem se importa? O fundamental é dormir e, claro, saber o significado dos sonhos. A pessoa, afinal, passa um terço da vida dormindo e não seria razoável desprezar as mensagens que são emitidas do sono, mesmo que, aparentemente, elas pareçam bizarras e sem sentido.
O HOMEM E O SELVAGEM
Priscilla Roth faz uma afirmação polêmica no seu livro "O Superego" (p. 20-21):
"Muitas são as recompensas da vida civilizada; acima de tudo, a vida é mais segura numa sociedade civilizada."
Trata-se, de fato, de um erro na medida em que tal segurança não existe. O civilizado reprime os seus desejos - instintos naturais para atender as expectativas dos outros (família, amigos, igreja, escola, mercado, entre outros). Para tanto, ele ocupa o seu cotidiano com bastante trabalho para acumular bens materiais e, devido a ansiedade e o estresse desse processo, pode morrer com um ataque cardíaco.
Não existe, na condição humana, algo como segurança (ou estabilidade). O que existe é morte e os bens materiais em nada ajudam nesse momento.
Quanto ao estilo de vida do civilizado, Freud fez uma observação interessante :
"O selvagem, assim como o animal, é cruel, mas ele não tem a maldade do homem civilizado. A maldade é a vingança do homem contra a sociedade pelas restrições impostas a ele. É essa vingança que dá vida ao reformista profissional e as pessoas intrometidas. O selvagem pode cortar a sua cabeça, comê-lo, torturá-lo, mas ele vai poupá-lo das pequenas provocações que (...) tornam a vida em uma comunidade civilizada quase intolerável." (A arte da entrevista, p. 95)
Mais uma vez, Freud estava certo.
JUNG & HEIDEGGER
É interessante a relação entre Carl Jung e Martin Heidegger com o nazismo. Jung teve uma paciente e amante judia. Heidegger teve um caso com uma aluna judia.
A intenção, aqui, não é tratar das relações entre os arianos e as judias. O que chama a atenção é, por um lado, a quebra de uma hipócrita norma social de monogamia no casamento - ambas são amantes - e, de outro, o rompimento de um "protocolo profissional" - médico/ psicanalista e paciente (Jung) e professor/aluna (Heidegger).
O controle do outro, provavelmente, estaria por trás da criação de tais convenções sociais. Elas são produzidas e mudam de acordo com as épocas históricas e com as sociedades.
Num modo de produção como o capitalismo, no qual o elogio ao trabalho tornou-se algo fundamental, seria razoável esperar condenações morais (e até legais) quanto ao rompimento destas normas.
O objetivo, neste sistema, seria produzir ao máximo - o "aceitável seriam oito horas por dia e seis dias por semana em um ambiente com outras pessoas (como uma fábrica ou uma loja).
Ainda assim, em tal ambiente, com homens e mulheres passando tanto tempo juntos, espera-se que não exista qualquer tipo de envolvimento amoroso.
Em outras palavras, não bastaria a tortura do trabalho. Tentar controlar a libido e proibir as relações sexuais seriam formas de controlar o outro, roubando o seu tempo, o seu espaço, a sua mente (imaginação) e o seu prazer sexual (mesmo fora do trabalho)
RISCOS
Seduzir é divertido. Exercer o poder sobre o outro deve ser fascinante. Mas e os riscos? Trata-se, como diria Foucault, de uma via de mão-dupla.
Basicamente, a questão seria: o que você provoca no outro? Existem consequências, claro. Existem as tais "condições externas aleatórias". Teoria do caos. Ou seja, mais do que um jogo de causa e efeito, tudo isso provoca uma dinâmica na qual não existem garantias.
A intenção seria essa? Perder o controle da situação? Quem joga estaria efetivamente consciente dos riscos?
Afinal, sempre deve ser lembrado que, nas relações entre adultos, não existe espaço para a ingenuidade.
VIRGINDADE
Ninguém se importa, atualmente, com o tabu da virgindade. Muitas garotas acreditam que isso seria só um "detalhe técnico".
Muitos homens se recusam a ser "o primeiro". Tal atitude não ocorre por acaso:
"Podemos dizer então (...) que o defloramento não tem apenas a única e civilizada consequência de amarrar a mulher permanentemente ao homem: desencadeia, também, a reação arcaica de hostilidade para com ele, que pode assumir formas patológicas." (Freud, O Tabu da Virgindade, p, 112)
Claro que "amarrar a mulher ao homem" pode parecer um exagero. Agora "a reação arcaica de hostilidade" ainda é bastante atual. O homem que já fez amor com uma ou várias virgens compreende essa observação.
A vingança feminina assume as mais diferentes e terríveis formas, ou nas palavras de Freud, "pode assumir formas patológicas." Em suma, o homem se depara com um lado que ele desconhecia na mulher: a vingança. O choque é tremendo. O arrependimento não resolve. Ele carregará em si algo como um medo de que a qualquer momento aquela mulher aparecerá do nada e arruinará a sua vida. Exagero?
"O tabu da virgindade, que nos parece tão estranho, o horror com que, entre os povos primitivos, o marido evita o ato de defloramento, são plenamente justificados por essa reação hostil." (Freud, p. 112)
Sem tratar da virgindade e sim da vingança, bastaria assistir ao filme "Atração Fatal" e, caso o homem não tenha tendências suicidas e afinidade com autodestruição, seria necessário torcer para que a ex-virgem encontre "o amor da vida dela" e o esqueça completamente.
CANTADAS
Alan Harper ficou indignado quando soube que o seu irmão olhava o decote da sua ex-esposa. A resposta que ele ouviu de Charlie Harper foi: "hey, eu sou homem."
Charlie estava certo. Trata-se de uma questão de instinto. O homem ao tornar-se civilizado tenta controlar o seu lado "animal", mas nem sempre consegue. É a natureza, diriam alguns.
Uma vez, uma amiga para implicar com minha namorada na época disse: "ih, eu já fui cantada pelo profelipe várias vezes."
Era verdade. Entretanto, não era algo especial na medida em que eu cantava praticamente quase todas as minhas amigas e as mulheres que conhecia.
O estranho seria uma garota sair comigo e não ouvir, com todo respeito, claro, uma indireta. As cantadas, em sua maioria, obviamente, nunca davam certo. Eu sabia. E insistia. Por quê? Instinto ou a velha frase do Charlie: "hey, eu sou homem."
Tudo isso não significa que eu seja uma maníaco sexual. Ao contrário, quem me conhece sabe que eu sou extremamente cavalheiro (isso leva algumas garotas a acharem o oposto da imagem anterior, ou seja, imaginam que eu seria gay).
Lidar com as relações humanas não é fácil. Seduzir uma mulher e compreender todos os sinais femininos é algo tão complicado como defender um tese acadêmica.
E então, o que fazer? O casamento poderia ser uma solução, pois o homem ficaria livre de ter que seduzir as outras mulheres e a sua esposa, bem, já seria "a" sua mulher.
Outra alternativa seria a prostituição. Não precisa seduzir. É algo objetivo, prático, como requer as relações capitalistas.
Entretanto, talvez pelo velho "instinto", essas alternativas não se apresentam atraentes ao homem. Ele precisa de desafio. Precisa conquistar. Caçar. Depois de dominada a "presa", o jogo perderia a graça e ele partiria para outra conquista. Costumavam chamar isso de machismo.
Voltando ao meu caso - que é o que realmente me interessa e por isso estou escrevendo sobre o tema -, já fui casado, já me envolvi com, digamos, relações de produção no campo sexual e, como disse no início, tento seduzir toda mulher com mais de 18 anos.
Os hipócritas poderiam falar que o meu caso deveria ter que ser tratado naquelas clínicas de viciados em sexo. Bobagem.
Digo hipócritas, aliás, porque os homens, com medo das mulheres, escondem que são casados ou que fazem sexo com prostitutas ou que cantam todas as mulheres que aparecem na sua frente.
Existiria alguma solução? Talvez, se eu não fosse um ser humano. No entanto, como todo animal, tenho instintos e o meu esforço civilizatório nem sempre consegue controlá-los. Ainda bem.
ZHIRINOVSKY & HOMOSEXUALIDADE
Para definir a heterossexualidade ou a homossexualidade como algo normal deve ser considerado, antes, a época histórica e o lugar. As formas amorosas hegemônicas no capitalismo não eram, por exemplo, as mesmas na Grécia Antiga.
Questionar se alguém nasce ou não homossexual é um retrocesso. A mesma pergunta não é feita no caso da heterossexualidade. Além do mais, antes de ser sexual, trata-se de um ser humano. Esse ser possui desejo que pode ser por homem ou por mulher. Esse desejo não é algo absoluto. Isso não significa que a pessoa mude a sua opção sexual o tempo inteiro e nem que ela teria alguma garantia de que a sua sexualidade seria aquela e que nunca mudaria.
Nem todos pensam assim. Muitos acreditam que a vida humana começou no capitalismo e que as suas normas seriam "naturais" e "eternas". Outros acreditam que um desejo seria natural e o outro seria uma "perversão". Muitos têm medo de problematizar a própria sexualidade. Acreditam no o fato de que bastaria ter nascido num corpo masculino ou feminino e, pronto, a sua sexualidade estaria definida.
Vladimir Zhirinosky apresenta uma teoria própria sobre o tema:
"A homossexualidade é um 'sputinik' (...) na história da humanidade. Mas não existem condições normais para relações sexuais harmônicas. Se as pessoas puderem casar ou ter relações sexuais no momento que desejam, ou se elas não estiverem isoladas, em exércitos ou prisões, talvez em 100 ou 200 ou 300 anos, a homossexualidade desapareceria." (Playboy, March 1995, p. 61)
Por um lado, Zhirinovsky esquece que o desejo por homem ou por mulher não tem a ver necessariamente em a pessoa estar num corpo de homem ou mulher. Por outro lado, é interessante a sua observação quanto as condições reais de existência como algo que incentivaria a prática do homossexualismo, como em exércitos ou prisões ou mesmo em lugares onde a população feminina seria muito menor que a masculina. Em outras palavras, com liberdade e desejo, um homem ficaria com uma mulher e não optaria pelo homossexualismo. Zhirinovsky estaria certo?
Conquistar uma mulher não é uma tarefa fácil. Podem existir situações em que o homem desista de uma relação normal e procure pagar pelos serviços de uma prostituta. Mas aqui surge um novo problema: se ele paga ele não é desejado. O homem, dificilmente, receberia uma cantada de uma mulher em um bar convencional.
Entretanto, se ele estiver num ambiente GLBT, a possibilidade disto ocorrer é maior. O problema não é se ele aceitará ou não o convite, mas a questão fundamental é que ele se sentirá desejado.
São características humanas - e não só femininas - sentir-se útil e sentir-se desejado. O fato do homem receber convites em um ambiente GLBT (e não em locais heterossexuais) talvez tenha a ver com a teoria (simplista, por sinal) que entre os homossexuais, muitos seriam "maníacos" e, portanto, estariam interessados apenas no sexo em si e não em desenvolver uma relação amorosa.
A problemática permanece. Não há como negar que a fêmea é exibicionista e que o macho seria um "voyuer". Definir, por exemplo, se a fêmea estaria necessariamente num corpo de mulher é outra questão. O que não dá, certamente, é ainda acreditar em conceitos absolutos nem que seria possível classificar um ser humano a partir de um único adjetivo. Em resumo, tais práticas têm mais a ver com regimes totalitários do que com sociedades democráticas.
MELHORAR
O excesso é um erro. É óbvio. A pessoa, principalmente depois dos 30 anos, começa a lidar com o estresse. Talvez o primeiro sinal seja a insônia.
As cobranças aumentam. As coisas, emocionalmente, pioram. Tomar vários remédios torna-se comum.
Chega, finalmente, o momento que todos evitam: ir ao psiquiatra - que até então era considerado médico de louco - e iniciar a fase com antidepressivos.
Ruim? Complicado é olhar para o lado e ver gente da mesma idade sofrendo com AVC ou ataque cardíaco. Alguns precisam ainda de psicoterapia.
Sempre pode piorar, mas essa não é a questão. O problema é quando a pessoa não quer melhorar.
Isso não significa suicídio ou algo parecido. A pessoa até aceita viver. O fundamental, para ela, é que não faz mais tanta diferença estar vivo ou não. Se ela gosta de fumar, por que deveria parar? Faz o que gosta na medida em que a morte é a certeza.
Isso, porém, incomoda os familiares e os amigos. Afinal, como lidar com a perda de uma pessoa querida?
Esse sentimento pode ser verdadeiro, mas o que realmente preocupa, talvez de maneira inconsciente, é ter com conviver, a partir da perda, com a ausência e a culpa.
Pode parecer estranho. Entretanto, os familiares e os amigos estão mais preocupados em como vão ficar depois da morte do amigo do que se ele queria continuar ou não nesta vida.
Trata-se de um ato egoísta no qual a pessoa amada representaria apenas um objeto numa fantasia de plena felicidade em que os familiares e os amigos criam para si mesmos e para os outros.
Triste? Nada. É só uma forma alienada de lidar com problemas da realidade.
Certamente esse é apenas um ponto de vista. Nem todas as pessoas são alienadas ou falsas quanto ao sentimento do amor.
Para essas que vivem intensamente com a pessoa amada, restam a dor da perda e o respeito por alguém que mais do que modelo serviu de razão para acreditar na vida, na ética, no respeito, na solidariedade e no verdadeiro amor.
IMBECILIDADE ²¹¹
Os homens civilizados pouco puderam fazer quanto ao processo de hegemonia da estética do corpo e da realização de instintos.
É constrangedor admitir, numa sociedade, o elogio do corpo em detrimento da capacidade intelectual da pessoa. O resultado disto aparece na superficialidade das relações sociais.
Não surpreende, portanto, ver uma maioria que acredita ser razoável trabalhar cinco ou seis dias e descansar (ter prazer) em um final de semana.
No caso brasileiro, a televisão ainda aparece como algo mais importante na educação dos indivíduos do que a escola ou a família. Aliás, que escola? Que família? BBB, Faustão, novelas, fanatismo no futebol, axé music... Isso sem citar o caráter religioso da população.
Pior do que o que os políticos fazem no Congresso Nacional, é reconhecer que eles são sim representantes de grupos significativos do povo.
Em suma, trata-se de uma população basicamente conservadora, na qual encontram-se racistas, corruptos, fanáticos religiosos, homofóbicos, nacionalistas, entre outros grupos antidemocráticos.
Como viver em um ambiente em que a imbecilidade é a norma? Freud estava certo quanto à espécie humana: o seu fim, definitivamente, não representaria a perda de algo relevante.
ISOLAMENTO ³¹²
Diante das dificuldades em lidar com o mundo externo, resta ao indivíduo duas opções: o isolamento ou o suicídio.
Como um Papa poderia supor que deveria tratar de lutas pelo poder, corrupção, casos de abuso sexual e pedofilia envolvendo a cúpula da Igreja? Fracasso é fracasso. Entretanto, talvez a escolha de Bento XVI tenha sido sensata.
A mesma coisa poderia acontecer com uma pessoa comum: como lidar com traições, falsidades e conspirações das pessoas mais próximas como familiares e amigos? Isolamento ou suicídio.
O isolamento é, sem dúvida, uma forma de evitar o suicídio.
Tentei o isolamento por quase dois anos. Não foi ruim. Talvez, algum dia, eu tente novamente.
REPETIÇÃO
Qualquer forma de ritual utiliza a técnica da repetição para confirmar certas ideias.
Existem psicoterapeutas que acreditam na catarse cuja base seria "a rememoração da situação traumática que gerou o sintoma e na revivência dos afetos que naquela ocasião não puderam ser 'ab-reagidos', isto é, eliminados." (Renato Mezan, A vingança da esfinge, p. 25)
Existe uma forma de repetição - um circulo vicioso - no sadomasoquismo. "No círculo vicioso de vergonha, aversão a si mesmo e depressão existe um desejo inconsciente de humilhar ou machucar outra pessoa. Os sadomasoquistas negam esse conhecido ciclo de sentimentos." (Estella Welldon, Sadomasoquismo, p. 46) Negam ainda a importância da infância em tal prática na vida adulta.
O essencial, em suma, é que a técnica da repetição aparece como uma forma de garantir um saber, um conhecimento. Seria quase uma maneira de "congelar" o passado.
É legítimo? Provavelmente essa não seria uma pergunta adequada.
O correto seria verificar caso a caso e somente a partir desse momento iniciar um processo de problematização.
Isso é feito? Raramente. Na nossa sociedade, mesmo entre os cientistas, ainda predomina uma busca por respostas fáceis e explicações simplistas.
ESPÉCIE HUMANA
Não tenho (mais) paciência com algumas situações.
Não me sinto obrigado a lidar com a indelicadeza, a insegurança e agressividade "disfarçada" de algumas pessoas.
Observo e me pergunto como fui parar ali (para não cometer o erro novamente, claro).
Sim, a culpa não seria dos idiotas que nem sabem "o que são de fato".
O erro seria meu de estar naquela situação.
Penso, em tais momentos, na "condição humana".
Lembro de Freud:
"Esforcei-me por resguardar-me contra o preconceito entusiástico que sustenta ser a nossa civilização a coisa mais preciosa que possuímos ou poderíamos adquirir, e que seu caminho necessariamente conduzirá a ápices de perfeição inimaginada." (O mal estar da civilização, p. 110-111)
Freud estava certo sobre a espécie humana.
OBSERVAÇÕES
* Não se esforce para convencer o outro de que você seria uma pessoa ética e interessante (pois você acabará revelando a sua verdadeira identidade).
* Fico, algumas vezes, cansado diante de certas pessoas da pequena-burguesia, assinantes da Folha de São Paulo e da Veja... que acham o Jô Soares um gênio e... acreditam verdadeiramente que "hiluxes" e smart-phones seriam símbolos de riqueza.
* Uma pedra "muito pequena" que não foi detectada antes da entrada na atmosfera atinge a Rússia com a "força de 30 bombas atômicas de Hiroshima" (telegraph.co.uk)...
e "o homem" acredita ser o centro de tudo e garantidor, pelo menos, da segurança e estabilidade do planeta em que vive...
INFANTILIDADE¹²
Afirmar algo como "a sua obra é interessante mas você não é" significa admitir que a interpretação do leitor é mais importante do que o conteúdo da obra (ou o que o autor "quis dizer" com ela).
Conhecer as duas dimensões - o que é a obra e quem é o autor - possibilita desmistificar os dois - autor e obra - e avaliar se realmente existe algo original naquele "processo".
Falar mal de si e desprezar a própria obra são estratégias defensivas (óbvias e infantis) que visam censurar o "olhar" do leitor.
CORPO: OBJETO DE AMOR
A frase atribuída ao poeta Vinícius de Moraes - "desculpem-me as feias, mas beleza é fundamental" - serve como ponto de partida para a reflexão de uma perspectiva histórica: o elogio do corpo. A valorização da estética do corpo humano não é uma invenção da sociedade capitalista.
Na Grécia Antiga, por exemplo, já havia um elogio ao belo corpo e existiam regras que visavam recomendar o que seria uma relação amorosa adequada. Entretanto, a visão do corpo nos dois modos de produção era oposta: no capitalismo, o corpo "existe" para o trabalho e, na Grécia Antiga, o corpo estava relacionado aos prazeres do ócio.
Entre os gregos, "o amor pelos rapazes" não pode ser confundido com os debates sobre o homossexualismo na atualidade.
Havia, na Grécia Antiga, uma "passagem da virtude do rapaz para o amor do mestre e para a sua sabedoria." (O uso dos prazeres, p. 210) Assim, de acordo com Michel Foucault:
"Aquele que é mais sábio em amor será também o mestre da verdade. (...) Na relação do amor, e como consequência com a verdade que, a partir daí, a estrutura, uma nova personagem aparece:
o mestre que vem ocupar o lugar do enamorado, mas que, pelo domínio completo que exerce sobre si mesmo,
modifica o sentido do jogo, transforma os papéis, estabelece o princípio de uma renúncia aos 'aphrodisia' e
passa a ser, para todos os jovens ávidos de verdade, objeto de amor." (O uso dos prazeres, p. 211)
Lentamente, no mundo ocidental, a mulher ocuparia o lugar do rapaz como objeto de desejo. As relações (entre o casal) mudariam também. O homem passaria a ser percebido simplesmente como "male gaze", ou seja:
"(...) um 'olhar masculino', a forma como homens por sua obsessão voyeurista procuram manter as mulheres na posição de objetos sexuais que são passivos ao seu olhar." (Camille Paglia, Playboy, October 1991, p. 133)
Camille Paglia, de certa forma, confirma a premissa foucaultiana de que o que era uma relação sofisticada baseada no saber entre um homem e um rapaz tornou-se uma relação óbvia focada apenas nos corpos como objetos sexuais:
"Eu acredito que a homossexualidade masculina é o símbolo máximo da liberdade humana, e é por isso que você tem essa homossexualidade ocorrendo nesses grandes pontos de cultura, como a Atenas clássica e a Florença." (Playboy, October 1991, p. 171)
Tratar de homossexualidade ou heterossexualidade significa debater sobre estilos de vida e não refletir sobre o tipo de relação sexual em si. O ser humano é dinâmico, está em constante mudança. O seu desejo, no plano individual, varia bastante conforme a idade e os contextos sociais em que vive. Não existe algo pré-determinado. O sexo em si é um instinto, nada mais do que isso. Instinto realizado por qualquer animal.
O que interessa é refletir sobre os significados do sexo para os seres civilizados. Para que isso aconteça, claro, é necessário não ter medo da própria sexualidade e nem ficar preso a dogmas inventados por aqueles que querem te usar (não necessariamente como objeto sexual).
A ARTE DE SER REJEITADO
1. olhe no espelho.
2. confira o seu peso na balança.
3. a roupa muita apertada não serve mais.
4. os velhos amigos avisam que não podem sair com você essa noite.
5. liga para as exs e descobre que casaram.
6. ao sair, sente-se ignorado em todos os lugares.
7. para quem sonhava em um dia ser invisível, finalmente chegou o grande momento.
SOLTEIRAS²³
Sábado. Noite. As pessoas saem. Algumas por opção, outras por obrigação (sim, diversão, para elas, seria mais uma forma de confirmar a sua suposta normalidade). Quem fica em casa? Casais. Pessoas com mais de 40 anos. Obviedades.
Um grupo chama a atenção: as meninas que eram musas, modelos, entre os 15 e 21 anos. Elas eram adoradas. Todos olhavam. Elas eram desejadas pelos homens e, claro, invejadas pelas mulheres. Tudo, para elas, parecia perfeito. Namoravam. Estudavam em faculdades. Festas. Praias no verão.
E depois? Formadas, trabalhando, carro próprio. Seria a segunda parte do sonho? Não.
Estavam mais velhas. Aquele namoro de anos havia terminado. Muitas ainda moravam com os pais. Algumas tiveram filhos, não casaram e também moravam com os pais. Deixaram de ser as musas. Foram trocadas por garotas mais novas.
Deixaram de ser o foco principal dos homens. Solteiras - após anos de uma relação monogâmica - não conseguem mais arrumar um namorado. No máximo, na noite, conseguem ficar com um rapaz que no dia seguinte estará com outra mulher. Precisam, nesta fase, pagar as próprias contas.
Começa aqui, para algumas, um ciclo "perigoso". Diante da realidade, param de sair em plena noite de Sábado. Ficam em casa e a sua companhia preferida é a geladeira. Engordam. Muito. Não lembram mais aquele corpo perfeito de adolescente.
A autoestima desaparece quase completamente. Se sentem feias. Se saem, são rejeitadas. Se ficam em casa, as coisas pioram.
Comer, beber (sozinha), ver televisão e navegar na internet não são exatamente formas eficientes de conseguir um corpo desejável.
Uma saída seria chamar as amigas que estariam na mesma situação - solteiras e rejeitadas. Claro que, oficialmente, isso seria uma "opção" na medida em que ficar com as amigas seria melhor do que ficar num "longo e tedioso namoro". A opção pelo grupo, na prática, confirma a fragilidade da pessoa. Os adolescentes precisam de grupo. Agora, como diria John Lennon, seria razoável permanecer assim na vida adulta? Ou, pior, aquela pergunta na música da Legião Urbana: "o que você vai ser quando você crescer?"
Ser adulto é um saco. A vida não é melhor para os casados. Aliás, um lado - o solteiro - possui a imagem que o ideal seria ser casado e o outro lado acredita na imagem de que a felicidade só existiria no mundo dos solteiros. Imagens. Ilusões. São desculpas utilizadas, na verdade, para justificar um cotidiano que não faz sentido. O foco no estilo de vida do outro serve para desviar o foco de si mesmo. Trata-se da velha fuga de si, ou seja, da fuga da vida.
INVISÍVEL
Coloquei uma frase hoje - 07/02/2013 - no Facebook: "existo, atualmente, só nas noites, nas sombras ... quase invisível ... "
Posteriormente, no perfil da Lorena Ferreira, encontrei um artigo interessante sobre uma pesquisa de mestrado que defendia um conceito de invisibilidade pública:
"uma percepção humana totalmente prejudicada e condicionada à divisão social do trabalho, onde enxerga-se somente a função e não a pessoa."*
A tese é verdadeira, claro. Contudo, vejo uma outra perspectiva diante de tal afirmação.
Trabalhei por muitos anos em dois centros universitários. Estou, desde 2008, no que chamo de "sabático". Em outras palavras, não trabalho mais, não estou associado a empresa alguma. Não apareço "oficialmente" na divisão social do trabalho. No entanto, tenho duas teses aprovadas, publiquei livros e leio sobre diversos temas. O que eu fiz, em 2008, foi uma opção.
Entretanto, as pessoas, em sua maioria, não conseguem entender como eu vivo sem estar ligado a alguma instituição ou sem ter compromissos com locais e horários definidos.
A primeira questão que surge é quanto ao dinheiro. As pessoas parecem acreditar que realmente trabalham em excesso para sobreviver, o que não é verdade. O excesso está relacionado ao carro novo, a televisão de tela fina ou, mais precisamente, a imagem que elas passam aos vizinhos, familiares e amigos. Elas compram coisas que não precisam para impressionar os outros. Trata-se dos jogos da ideologia e da alienação, ambos associados à divisão social do trabalho.
Em segundo lugar, parece que a minha situação incomoda certas pessoas no que diz respeito ao ócio. Como você consegue viver sem ter um objetivo, um plano? Ou seja, como alguém poderia viver sem "focar" no futuro? Essa é outra velha estratégia de dominação. É preciso sofrer muito no presente - trabalhar em excesso, por exemplo - para encontrar uma recompensa num lugar que não existe - o futuro. É uma boa forma de não pensar em si mesmo e nem nas suas reais condições de existência.
Existem outras questões, mas essas são as duas perguntas que mais ouço. Evito falar muito sobre o tema pois percebo que a maioria está mais incomodada do que interessada em saber sobre a complexidade da situação.
Voltando ao trabalho de mestrado citado no início, existe uma diferença entre ser tratado como "invisível" e escolher, algumas vezes, ficar "invisível".
Mesmo não estando empregado, eu tenho uma identidade na divisão social do trabalho: eu sou professor com doutorado pela PUC de São Paulo. Essa identidade "avisa" aos outros que a minha escolha pode ter sido feita por qualquer motivo exceto ingenuidade.
Em suma, fico "invisível" quando me interessa e quando quero "aparecer" as pessoas ficam diante de um ser humano complexo, que pensa, que percebe além da aparência.
Essa "visibilidade" repentina causa ironicamente medo em certas pessoas como se elas imaginassem que eu percebesse, na hora, o que estaria por trás das máscaras e jogos que elas fazem para sustentar uma ilusão. Sim, talvez aqui elas tenham razão.
* http://www.ip.usp.br/imprensa/midia/2008/orq_cuiaba_7-12-2008.htm
CORDIAL"Só porque eu sou gentil, generoso, cordial e pronto para ver o lado bom das pessoas, isso não faz de mim um indivíduo subserviente e sem autoestima."
"Just because I am gentle, kind, generous, friendly and ready to see the good in people does not make me a passive, subservient drone with no self esteem." (katspencer11)
PLANET HEMP
. não culpe o outro pela sua frustração...
. não olhe para o outro como se ele fosse "o rejeitado", afinal...
. toda pessoa é rejeitada ao nascer... é rejeitada pela própria vida que te deixa de presente a única certeza da sua insignificante existência: a morte...
. "o que fazer?" diria Lênin no seu velho livro como se ele soubesse o que estava falando...
. fazer é viver...fazer é arriscar...fazer é sair da sua ilusória "área de conforto"...
. como diria aquela música antiga do Planet Hemp: "o que você precisa para sair daí?"
CONSIDERAÇÕES ÓBVIAS SOBRE CASAS NOTURNAS
√ Diante de qualquer problema, o funcionário costuma dizer "é assim e quem manda é o dono".
√ Então... Imagino que o dono de um bar ou boite deveria saber que o funcionário mais importante da sua casa seria justamente o primeiro que teria contato com o cliente, na entrada, na portaria.
♥ Algo como "boa noite"... educação, bom humor, cordialidade... essas coisas fazem muita diferença e, de certa forma, "convida" mesmo o cliente a entrar no ambiente.
† Portanto, não entendo lugares que colocam (em suas portarias) seguranças terceirizados, mal humorados... com aquela cara fechada como que dizendo que odeia o seu trabalho e o lugar onde trabalha...
† Trata-se, normalmente, de um lugar que "se acha" acima de todos e que ali estariam fazendo um grande favor em deixar algumas pessoas entrarem e consumirem o que poderia existir de melhor no nosso planeta. Existem algumas casas noturnas assim em Uberlândia. Chega a ser risível.
FASE
Uma amiga me disse no último fim de semana: "olha, não é porque você não tem compromisso que todo mundo vive assim..."
Ela está certa.
As pessoas, no geral, correm bastante [para onde mesmo?], atrasadas, com muitos compromissos em nome de planos que se realizarão no .f.u.t.u.r.o.
Ou seja, elas perdem a vida no .a.q.u.i. e .a.g.o.r.a. [o que acontece, de fato, no presente] em nome de algo que .n.ã.o. .e.x.i.s.t.e. [o futuro].
Pode ser [uma fuga] interessante. Mas já passei da fase.
RESPOSTA DIPLOMÁTICA
...ontem outro professor [que eu não via, no mínimo, desde 2005] veio me perguntar como eu sobrevivia sem dar aulas...
...não explico mais...ainda mais para professor de faculdade que deveria, teoricamente, ser mais esperto...rs...
...deu vontade de responder: "prostituição - não desperdiçaria esse corpo hehehe - ou... tráfico de drogas"...
...mas, pensei, vai que o sujeito não compreende a brincadeira...
...então, como sempre, fui educado e dei qualquer resposta diplomática [que não significa coisa alguma mas a pessoa tem a sensação que a sua pergunta foi respondida]...
CASTELO DE CARTAS
Você foi uma pessoa interessante até chegar na faculdade...
Aprendi muito com você...
Depois você "parou" no que imaginou que seria o "auge"...
Não percebeu que não existe o "auge" na vida...
A vida não acontece numa "linha evolutiva"...
É engraçado como que quando as pessoas estão naquilo que chamam de "auge" desconsideram as velhas amizades e acreditam [investem] nas relações equivocadas...
Algumas pessoas precisam de décadas para compreender isso...
A "conta" chega e o preço é emocionalmente [bastante] alto para quem se recusou a lidar com a realidade e preferiu a ilusão...
Não sinto pena. Não sinto satisfação. Pior. Não sinto coisa alguma.
VIVER
...algumas pessoas da minha idade afirmam que eu "chutei o balde" ou desisti da vida...porque vou em boites, bares, ouço heavy metal, ando de skate...enfim, faço o que eu quero...
...essas mesmas pessoas passam o fds trancadas em casa, vendo TV, tomando seus remédios controlados e engordando numa rapidez que causaria inveja a um filhote de elefante...
...e eu que desisti de viver??! ok ok...
O PREÇO DA ILUSÃO
. você esconde atrás da ilusão...
. você foge dos seus verdadeiros traumas como o diabo foge da cruz...
. isso tem um preço...
. um dia, porém, eles, os traumas, serão revelados (para você)...
. neste momento, você encontrará as suas verdadeiras companhias: loucura, alzeimer, morte...
. todo o processo será lento, muito lento...
. é o tal preço...
. a velha culpa que sempre criou uma mal estar na sua noite reinará absoluta...
. o seu sofrimento parecerá eterno...
. diante do que você fez, isso seria o mínimo que poderia acontecer...
CRISE DE IDENTIDADE
"Uma menina sabe quando ela se torna uma mulher quando fica menstruada." (Camille Plagia)
O problema vem depois de alguns anos, quando ela tem uma crise de identidade. Ela sabe disto quando um homem heterossexual não quer fazer sexo com ela. Ele se torna seu amigo, só isso. Ela sente como se ela não fosse mais atraente do ponto de vista sexual.
Todo homem heterossexual é obsessivo com sexo. Ele é um "voyeur" e ele quer fazer amor com toda garota do mundo.
A mulher precisa se sentir sexualmente desejada. Se isso não acontece, significa crise. Ela se sente feia ou gorda. Ela acha que perdeu o seu lugar no mundo.
Normalmente isso acontece quando ela tem 25 anos de idade ou mais. Ela não se casou e o seu trabalho é a coisa mais importante em sua vida. Ela tem seus amigos - a maioria das mulheres. Mas alguma coisa está faltando.
A idade não é a melhor amiga de uma mulher. Ela sabe disto em sua primeira crise de identidade. A partir daí, a tendência é que as coisas piorem...
PSICOPATA
Um agente do FBI disse que ninguém nasce psicopata. Os traumas sofridos na infância deveriam o perfil do indivíduo. Trata-se de uma perspectiva freudiana. Entretanto, as afirmações do agente são feitas a partir de várias experiências nos Estados Unidos.
Como colocar um psicopata na prisão?
Primeiro, é necessário admitir que o psicopata é um pessoa inteligente. Faz planos. Nada acontece ao acaso.
Segundo, o foco do psicopata, a partir do seu passado, é a repetição de uma fantasia. Existiria um "gatilho" que detonaria todo o processo da fantasia. Ela funcionaria como "um CD em seu cérebro". Entretanto, a fantasia nunca seria completa. Por isso é necessário a repetição. Isso significa que o psicopata estará sempre caçando novas vítimas.
Portanto, em terceiro lugar, seria importante admitir que nunca seria possível controlar a mente de um psicopata.
A teoria é razoável mas ela é feita por um policial que quer respostas práticas. As relações humanas são complexas. Não seria possível definir tudo a partir de uma teoria de causa e efeito.
Contudo, pensar como o agente do FBI seria admitir que todo machista teria uma perspectiva de um psicopata: a infância, a fantasia, a repetição e a busca por novas vítimas. Nada mal. INSIGNIFICÂNCIA Calvin diz num quadrinho: "a realidade continua arruinando a minha vida".
Eu mudaria uma palavra "a emoção continua arruinando a minha vida."
Tal "monstro" é sem controle, surge de dentro, como um dragão, cuspindo fogo, gerando calafrios, dores de cabeça, ansiedades, entre outras coisas.
Heidegger dizia que com a angústia poderíamos ver efetivamente a realidade. Trata-se de um preço alto demais.
Entretanto, quando o assunto é sentimento, qualquer ser humano torna-se um refém.
A única vantagem, talvez, é que nesse momento ele se dá conta de sua insignificância.
A VELHA FORTALEZA
A pessoa tem 30 anos.
Está formada. Boa universidade.
Possui estabilidade no emprego.
Sempre viaja nas férias e nos feriados prolongados.
O roteiro, nos fins de semana, são bares... O objetivo: diversão e diferentes mulheres / homens. Não namora.
Não quer uma relação estável.
Possui o seu próprio carro.
Frequenta motéis. Mora com os pais.
O seu verdadeiro espaço é o seu quarto...
Aquele, que ao longo dos anos, foi pintado algumas vezes, os "posters" mudaram de acordo com a idade...
Entretanto, é o mesmo quarto. 30 anos depois.
Representa a velha fortaleza da criança que tinha medo do mundo lá fora.
A criança ainda permanece no quarto. Talvez nunca cresça.
ALIENAÇÃO OU CONSCIÊNCIA NA SEDUÇÃO
As revistas de nudez nunca atraíram os olhos femininos. Tanto em casos como a Playboy (mulheres nuas) ou a Playgirl (homens nus) o público é o mesmo: homens (heterossexuais ou homossexuais).
De fato, a perspectiva feminina é diferente do olhar masculino. A fêmea precisa ser admirada. O macho gosta de ver, seduzir e caçar.
O homem heterossexual é, antes de tudo, um "voyeur". A mulher possui o poder da atração. Ela conhece os truques, as dissimulações e os acessórios.*
A mulher, normalmente, sabe utilizar essa ambiguidade a seu favor. Quando isso acontece, torna-se, nas palavras de Nelson Rodrigues,
"uma potência fantástica, devido à atração sexual. Isso lhe dá o instrumento de domínio, todo sujeito que tem grande atração por uma mulher está liquidado. Ela exerce o poder e ele a submissão."**
Mas... será que toda mulher tem consciência do seu poder de sedução? O corpo humano é importante e pode provocar várias reações.
"A estética está no coração da natureza humana. Quando se fala em estética, é necessário falar da estética do corpo humano."***
Para Camille Paglia, nem sempre as mulheres estão conscientes do que provocam nos outros, especialmente nos homens:
"Vejo mulheres fazendo 'cooper' na rua com os seus seios para cima e para baixo e eu acho que elas estão loucas. Elas realmente não veem que são um alvo de provocação ao correr."³*
A falta dessa consciência pode criar problemas para as mulheres, entre eles, um dos mais graves seria o estupro. Trata-se de um tema bastante polêmico. Por um lado, "as mulheres, em sua maioria, precisam ser seduzidas e consideradas atraentes."³* Por outro lado, não se pode afirmar que a própria mulher seria a responsável por um estupro. A alienação, nesse caso, pode causar consequências imprevisíveis:
"uma garota toma 12 tequilas numa festa de faculdade e um rapaz a chama para subir para o seu quarto e, então, ela fica surpresa quando ele a ataca?"³*
Esta relação de poder entre duas pessoas pode ser associada ainda em outro contexto. Na Grécia Antiga, a relação amorosa considerada "nobre" era entre um homem e um rapaz:
"O amor pelos rapazes não pode ser moralmente honrado, a não ser que ele comporte (...) os elementos que constituem os fundamentos de uma transformação desse amor num vínculo definitivo e socialmente preciosos, o de 'philia'."¨*
A sedução no que diz respeito aos rapazes poderia ser interpretada atualmente como casos de pedofilia:
"Eu endosso, ou defendo, o 'garoto-amante' em meu livro. Isto era racional e honroso na Grécia Antiga, no auge da civilização. Pornografia infantil? Metade da carreira de Caravaggio não é nada além de pornografia infantil, ou seja, meninos expondo os órgãos genitais. Eu posso entender o por que, na atualidade, da proibição de filmes de crianças sendo expostas à pornografia, mas eu defendo as pinturas que apresentam pornografia com crianças ou o sexo nos quadrinhos (que eu realmente gosto). Existe um incrível mercado para os 'sex comics'. Eu acredito que eles são mais criativos do que os orgasmos simulados das mulheres."³*
A mulher e o "garoto-amante" aparecem como objetos de sedução. Entretanto, trata-se de uma relação mais complexa. Primeiro, o que foi dito no caso da mulher aqui refere-se à atualidade e o que foi citado do "garoto-amante" está associado ao período da Grécia Antiga. Segundo, colocar mulher e "garoto-amante" como seres somente "passivos" é polêmico, sobretudo no caso da mulher, adulta, que, muitas vezes, uso o poder de seu corpo como forma de dominação. Dizer que as alienadas são vítimas é desconsiderar que "cada um deveria ser pessoalmente responsável pelo que acontece em sua vida."¨²*
Em suma, a relação entre um adulto e uma criança é uma relação desigual. No entanto, a relação entre dois adultos (homem e mulher, homem e homem ou mulher e mulher) é diferente, ou seja, a alienação não pode servir de justificativa para o fracasso numa relação de poder. Todos nós, conscientes ou alienados, somos responsáveis por nossas escolhas e pela maneira que nos apresentamos aos outros, com os olhares, gestos, sorrisos e, claro, a maneira como nos vestimos.
* Michel Foucault, O Cuidado de Si, p. 220.
** Nelson Rodrigues, Playboy, Novembro de 1979.
*** Camille Paglia, Playboy, October, p. 133.
³* Camille Paglia, Playboy, October, p. 170.
¨* Michel Foucault, O Uso dos Prazeres, p. 198.
¨²* Camille Paglia, Playboy, October, p. 171.